Emerge o corpo feminino educado e disciplinado! O feminino, na primeira metade do século XX, foi inserido no processo educativo e por ele “construído” enquanto discurso, reforçando estereótipos femininos que o naturalizaram enquanto reprodutor, maternal e frágil. Delimitamos o Colégio Santa Teresinha do Menino Jesus como recorte espacial, criado em 1925 na cidade de Caicó e elegemos a primeira metade do século XX enquanto recorte temporal visando olhar para o seu processo educativo feminino, o qual era transpassado por valores morais, sexuais e condutas exemplares. Em meio ao processo da modernização do complexo urbano, da liberalização do corpo e do aburguesamento da sociedade, o feminino é (re)pensado pelas tintas dos literatos, pelas penas dos juristas e pelos sermões religiosos, enquanto corpo “disciplinado”, “adestrado”, casto e puro. Nesse processo, o feminino é transpassado por redes saberes e poderes que legitimam e naturalizam o ideal feminino burguês: ser mãe, esposa e dona de casa; ideal que perpassava o processo educativo do Colégio Santa Terezinha de forma clara, como nos mostra as fontes. Logo, objetivamos dar visibilidade ao feminino e ao processo educativo no Colégio Católico Santa Teresinha com um olhar sob as relações de gênero, a análise discursiva e a educação feminina. Para isso utilizamos uma metodologia dialógica entre historiografia – local e pluridisciplinar – e fontes – fotografias, artigos do Jornal das Moças (1926-1932) e entrevistas de ex-alunas do Colégio Santa Terezinha – para dar corpo ao trabalho. O trabalho é “arrematado” pelos fios teóricos de Foucault para pensar os conceitos de disciplina, saberes e poderes e pelos fios teóricos na linha de gênero como Butler, Swain, Segato entre outros, visando pensar o feminino enquanto categoria de gênero legitimada, naturalizada e reproduzida pelo próprio processo educativo. Observamos que a educação feminina, na primeira metade do século XX, foi mediada pelo discurso burguês de ser mulher – religioso, jurídico e jornalístico – os quais voltavam à educação feminina para a disciplinarização do corpo, ligando-o ao privado através de suas “funções” domésticas e maternais. A própria grade curricular do Colégio Santa Terezinha abrangia cursos como Economia Doméstica e Educação Física, dentro da ordem moderna de (re)pensar o corpo como medicalizado e disciplinado para o bem casar e para servir a Pátria. Uma análise que extravasa os limites do campo educacional ao lançar possibilidades de questionamentos pluridiciplinares com outras áreas do conhecimento como antropologia, sociologia e a história.