Durante o surto pandêmico da COVID-19 diversas mudanças fizeram-se necessárias no mundo do trabalho, sobretudo no que diz respeito às modalidades e espaços de sua realização. Devido à necessidade do isolamento social, a fim de minimizar a proliferação do vírus e a consequente contaminação da população em massa, a implantação do trabalho remoto realizado em casa, mediado por tecnologias digitais - o chamado home office-, foi implantado em diversas áreas profissionais. Dessa forma, o espaço público e externo, no qual se dá o trabalho produtivo e assalariado, migrou para o espaço privado, no qual se realiza um trabalho não remunerado e dedicado à reprodução das condições de existência - o trabalho doméstico. Dois ambientes distintos, nos quais a divisão sexual do trabalho e as relações sociais de sexo/gênero se desenvolvem, foram transformados em um só. Especificamente no trabalho docente na Educação Básica, em que pese sua já propalada precarização, desvalorização e feminização, a implantação do Ensino Remoto Emergencial (ERE) somou-se à sobrecarga da mulher professora-mãe-esposa-dona de casa coma realização de uma prática educativa à distância, mediada por tecnologias digitais pouco usuais nas escolas públicas, bem como o entrelaçamento imprevisto dos seus espaços de trabalho público e doméstico. Desvelar como esse momento foi vivenciado pelas professoras, seus impactos, desafios e dificuldades, estratégias de resistência e de enfrentamento, diante do trabalho múltiplo e simultâneo, da inusitada transformação de seus espaços público e privado em um só e, da necessidade compulsória de utilização de Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação (TDIC) no processo educativo, é o que se buscou na presente pesquisa. Buscou-se a compreensão e um repensar da formação e do trabalho docente frente às situações imprevistas, à utilização compulsória e não planejada de tecnologias digitais como ferramentas para o ensino-aprendizagem e a divisão sexual do trabalho doméstico das docentes. A pesquisa teórico-empírica teve uma abordagem qualitativa, cujos sujeitos são professoras da Educação Básica que atuam nos Ciclos I e II, da Rede Pública Municipal de Educação de Belo Horizonte, que foram entrevistadas presencialmente utilizando-se de um roteiro semiestruturado. Posteriormente trechos dos discursos das entrevistadas, que ajudem a responder as questões de pesquisa, foram selecionados e analisados à luz das teorias sobre Formação e Trabalho Docente e da Divisão Sexual do Trabalho.