Este estudo assume a literatura de Clarice Lispector como horizonte filosófico de reflexão da existência humana, fundamentando seu exercício analítico-epistêmico em conceitos importantes da fenomenologia-existencialista, como “angústia”, “ser-aí”, “má-fé” e, especialmente, “liberdade”. No que concerne a esse referencial teórico, delimita seu corpus no arcabouço filosófico de Jean-Paul Sartre, Albert Camus e Martin Heidegger. Sob a luz dessas referências, este estudo objetiva entender a(s) maneira(s) pela(s) qual(is) Clarice Lispector nos provoca a pensar a formação humana como uma experiência de alteridade. Para tanto, optou-se pela investigação do romance “A aprendizagem ou o livro dos prazeres”, obra eloquente à discussão dos imperativos existenciais que instam o indivíduo humano a formar sua subjetividade face ao desconhecido que é o outro, sem que no livre movimento da intersubjetividade ela se destitua de sentido. Como resultado da leitura e análise filosófico-pedagógica da referida obra, o estudo conclui que, ao promover uma verdadeira odisseia formativa à sua amada (Lori), Ulisses – que junto a ela estabelece um vínculo instável de expectativas passionais – faz intervenções “pedagógico-filosóficas” que fazem Lóri ir adentrando nas profundezas de si mesma, num processo de autoconhecimento que a desconstrói, gerando um ser mais experiente sobre os limites e possibilidades do amor a si e ao outro, enquanto ela, na direção inversa, faz com que Ulisses se transforme enquanto homem. Como categoria teórico-metodológica que confere profundidade pedagógica à análise existencialista da referida obra literária está o conceito de “experiência”, cuja significação específica parte da interpretação do pedagogo Jorge Larrosa Bondía do conceito de erfahrung, oriundo da filosofia de Walter Benjamim.