A anemia falciforme (AF) é tida como um problema de saúde pública no Brasil, pois a doença tem alta prevalência no país. Estima-se que o alelo causador da AF tenha sido originado a cerca de 50 e 100 mil anos, nas regiões centro-oeste da África, Índia e leste da Ásia multi-regional, atingindo populações com diferentes características genéticas. No Brasil, a introdução do alelo ocorreu com maior intensidade entre os séculos 16 e 19, motivado pelo tráfico de pessoas do continente africano que foram escravizadas no país. E, embora a doença tenha sido originada em diversos continentes de forma simultânea é comumente associada restritamente ao continente africano, assim como a doença carrega o estigma de que somente pessoas negras podem tê-la, tanto em alguns discursos biomédicos, como escolares, a exemplo daqueles encontrados em Livros Didáticos (LD). Dessa forma, este estudo buscou analisar as coleções de LD de Ciências da Natureza do Ensino Médio, aprovadas no PNLD 2021, e identificar se há ou não um discurso racial associado à AF e ao racismo científico. Para tanto, foi utilizada a metodologia de análise de conteúdo proposta por Bardin. A partir desta análise, o principal resultado encontrado foi que a AF foi pouco citada em temáticas atreladas aos mecanismos de seleção natural, aconselhamento genético ou racismo científico, ao contrário do encontrado em estudos anteriores. Nessas poucas citações sobre a doença, não se verificou a presença de discursos de associação racial, um resultado positivo. Contudo, considerando a alta prevalência da AF no Brasil, a baixa frequência da abordagem nos LD evidencia que a doença continua a ser silenciada no contexto educacional, tal como em outros contextos. Este silenciamento contribui para a invisibilidade da doença, perpetuação de preconceitos e para a desconsideração sobre as necessidades de assistência social e saúde das pessoas acometidas pela AF.