As cartografias sociais vêm ganhando relevância nas discussões da Geografia, pois se tratam de produções que enfatizam a participação social e permitem o surgimento de novos sujeitos cartográficos. Entre tais sujeitos, destacam-se os povos indígenas, que usam as cartografias sociais como instrumento de luta por seus territórios e de autoafirmação identitária. O objetivo deste trabalho é fazer uma análise de cartografias produzidas por crianças das etnias Guarani e Kaiowá da Aldeia Bororó, em Dourados, Mato Grosso do Sul, à luz do contexto de desterritorialização que vive tal povo, bem como a partir da Cartografia Sentimental e Cartografia Afetiva. Para isso, foi desenvolvida uma atividade de produção de cartografias entre alunos indígenas de uma turma de língua Guarani da aldeia, solicitando que as crianças desenhassem livremente em papel A4 o que para elas representava seus territórios tradicionais (tekoha, em Guarani). Foram obtidas 4 cartografias, de modo que os resultados demonstram que os sujeitos das cartografias atribuem a natureza e seus elementos como entes essenciais na composição de tais territórios. Apesar do contexto atual que envolve conflitos e problemas sociais graves (fome, falta de água, pobreza) as crianças veem o tekoha como um lugar de harmonia. Dessa forma, entende-se que tais cartografias representam o tekoha ideal e sonhado, nutrido a partir da esperança de um dia tê-lo. Assim, o trabalho permite uma interessante leitura da construção simbólica que envolve os territórios por parte das crianças indígenas, exprimindo a potência das cartografias sociais para obter leituras descolonizadas e sensíveis acerca dos territórios.