INTRODUÇÃO Esse resumo traz uma breve discussão, resultante de uma pesquisa feita a nível de mestrado, acerca da importância da cartografia no contexto escolar para estudantes cegos. A atuação como professora de Geografia na educação básica trouxe inquietações e questionamentos que permitiram tais investigações. Considerando a importância da cartografia para a compreensão do espaço, é necessário disponibilizar este recurso para as pessoas cegas, contemplando a proposta da educação inclusiva. É nesse contexto que surge a cartografia tátil, um ramo específico da cartografia com representações que podem ser compreendidas também pelo tato (LOCH, 2008). Pois, a exploração de mapas táteis pode trazer avanços acerca da orientação e mobilidade de pessoas com deficiência visual, bem como a compreensão do espaço. Inserida nessa conjuntura, essa pesquisa está ancorada na exploração tátil do espaço e as possibilidades para a construção de mapas mentais e de representação do lugar (escola) no contexto de escolas públicas inseridas na perspectiva da educação inclusiva. Diante disso, o presente estudo tem como objetivo analisar as possíveis contribuições da exploração tátil do espaço para a construção de mapas mentais e de representação do lugar. Para alcançar o objetivo proposto, a pesquisa tem abordagem qualitativa e o viés metodológico foi a pesquisa-ação, pois favorece uma ação ativa dos sujeitos em uma investigação elaborada acerca de uma problemática. Os instrumentos de coleta de dados foram a entrevista semiestruturada e a observação participante. Os sujeitos da pesquisa foram estudantes cegos. O lócus foram as escolas públicas situadas em diferentes bairros de Feira de Santana, Bahia. Em consonância com essa temática, as ideias de Ribeiro (2021) e Loch (2008) fundamentam os estudos sobre a cartografia tátil, bem como Richter (2011; 2018) norteia as discussões sobre a elaboração de mapas mentais. Os resultados mostraram que ao promover a exploração tátil do espaço, há uma melhoria significativa na construção de mapas mentais e na representação cartográfica do lugar. Em síntese, é possível afirmar que o estudante cego que tem a oportunidade de conhecer o espaço através do sentido do tato, consequentemente, tem a possibilidade de ampliação do conhecimento cartográfico resultando, dentre outros fatores, em maior autonomia no deslocamento do lugar. METODOLOGIA A opção metodológica escolhida tem foco na análise das vivências dos colaboradores da pesquisa. Sendo assim, a pesquisa tem uma abordagem qualitativa em que o pesquisador dialoga com os sujeitos da pesquisa. Nessa direção, Bogdan e Biklen (1994) definem que o objetivo dos investigadores qualitativos é obter uma melhor compreensão do comportamento e experiência humanos. Nesse contexto, a pesquisa-ação foi a metodologia adotada, pois favorece a associação com a resolução de um problema coletivo, no qual tanto os pesquisadores quanto os participantes estão envolvidos de modo cooperativo. (THIOLLENT, 1986) Em um processo cíclico de ação, reflexão e ação, a pesquisa-ação condiciona a uma reflexão constante acerca da prática investigativa. Nesse ínterim, foram selecionados como instrumentos de pesquisa, a entrevista narrativa e a observação participante. Vale ressaltar que o sigilo e o anonimato dos participantes foram garantidos. É oportuno destacar que a pesquisa foi submetida ao Comitê de Ética da Universidade Estadual de Feira de Santana e aprovada com louvor, em março de 2020. O trabalho investigativo foi desenvolvido em etapas. Na primeira, foi realizada uma entrevista narrativa e, ao final, foi solicitado ao estudante a representação cartográfica do mapa mental da sala de aula. Na segunda, foi feita a exploração tátil do espaço escolar. E na terceira e última etapa, foi realizada outra entrevista e um novo registro cartográfico tátil. Vale ressaltar que com a finalidade de obter registros cartográficos táteis, a folha ofício disponibilizada para o registro foi sobreposta a uma lixa de parede e presa em uma prancheta e foi disponibilizado o giz de cera, pois, dessa forma, a produção foi passível de ser interpretada pelo tato. Os sujeitos da pesquisa foram três estudantes cegos que frequentam os anos finais do Ensino Fundamental e o Ensino Médio. A escolha por essa faixa de escolarização sucedeu pelo fato de que, nesse período, os conhecimentos cartográficos estão em fase de consolidação. Em razão da sucinta proposta dessa discussão, será explanada, apenas, as participações de um dos colaboradores da pesquisa. O lócus da pesquisa foram escolas públicas das redes municipal e estadual localizadas em bairros distintos, na área urbana de Feira de Santana. Os dados coletados durante a pesquisa foram sistematizados e categorizados para a análise. A análise de conteúdo foi a proposta metodológica selecionada para a análise dos dados, pois esta confere uma abordagem que tem por finalidade efetuar deduções lógicas e justificadas. (BARDIN, 1977) As discussões postas giram em torno da seguinte categoria temática: a exploração tátil do espaço, a tessitura de mapas mentais e da representação cartográfica do lugar. Por conseguinte, os frutos colhidos estão justificados dentro dessa esfera e explanados a seguir. RESULTADOS E DISCUSSÕES Os resultados aqui discutidos são decorrentes da investigação na qual referencia a contribuição da exploração tátil do espaço na construção de mapas mentais e para a representação do lugar. De certo, a trajetória indagativa contempla práticas educativas inclusivas, pois é necessário contemplar as especificidades de todos os alunos. Geralmente, ao adentrar em um local desconhecido, o mapeamento para identificação do espaço é feito, a princípio, pelo sentido da visão. Entretanto, para as pessoas com deficiência visual, a ausência do sentido da visão condiciona a compreensão do espaço através de outros sentidos, como o tato e a audição (VYGOTSKY, 1983). Sendo assim, a exploração tátil do espaço é uma das ações que devem integrar as atividades do estudante cego para proporcionar a ampliação do conhecimento do lugar e, consequentemente, propiciar maior autonomia do educando no espaço. Na trilha investigativa, ao ter contato, de forma inédita, com o material para o registro, o estudante demarcou o entusiasmo em produzir, pela primeira vez o registro tátil do mapa mental: “bela iniciativa tua, viu! Você teve uma boa criatividade aqui!”. O ineditismo da atividade é um marcador da violência simbólica sofrida por estudantes cegos que são privados de atividades adaptadas que contemplem suas especificidades. (RIBEIRO, 2021) Após se familiarizar com o material, o estudante deu continuidade à sua produção e justificava cada item registrado: “[...] aqui fica a mesa do professor. Nessa região aqui ficam as cadeiras. Essa fileira aqui, essa fileira aqui, essa fileira aqui e essa aqui ó. Pronto!” Foi possível perceber que os professores negligenciaram as oportunidades de compreensão e representação do espaço, tendo em vista que é evidente o desconhecimento do estudante referente a essa temática. Nesse contexto, vale ressaltar a importância de atividades voltadas à educação cartográfica. Sobre isto, Richter (2018) afirma que o “[...] pensamento espacial pode ser potencializado a partir do desenvolvimento de atividades e propostas escolares vinculadas à utilização da linguagem cartográfica nas aulas de Geografia” (RICHTER, 2018, p. 253). Posteriormente, foi feita a atividade exploratória da escola, seguindo um roteiro pré-estabelecido pela pesquisadora, oportunizando o reconhecimento do espaço através do tato. Após a exploração tátil, houve uma melhoria significativa na qualidade do mapa mental. A percepção de Richter (2011, p. 149) é aliada a essa temática, ao afirmar que “[...] a construção desses mapas mentais está associada, na maioria dos casos, ao nível de detalhamento das informações contidas no espaço”. Na primeira representação feita antes da exploração tátil, as fileiras de cadeiras dos estudantes foram representadas de forma genérica, com um traço em linha reta. Após a exploração tátil, cada cadeira foi representada por um quadrado, todos enfileirados. Além disso, o estudante registrou o local da porta da sala e o quadro do professor foi representado por um retângulo, forma compreendida após a exploração tátil. No segundo registro, a mesa do professor foi traçada bem próxima do seu formato original e na posição exata do espaço real, entre o quadro e as cadeiras. Enquanto produzia o mapa, o estudante comunicava: “[...] o quadro é grande e fica perto da porta que a gente entra... ele é retangular e alto. Vou colocar a mesa do professor aqui, perto do quadro! Ela é maior do que as nossas mesas”. E desse modo, fez o registro desses elementos de forma proporcional dos elementos da sala de aula, com melhoria significativa na qualidade do mapa mental. Em consonância com o resultado apresentado, Richter (2011, p. 244) destaca que “[...] os mapas mentais se tornam um excelente recurso para identificar leituras mais aprofundadas sobre um dado conteúdo ou desvelar análises mais restritas ou limitadas”. Acrescenta-se ainda que a exploração tátil do espaço promoveu um melhor desempenho na produção do mapa mental e na representação gráfica. CONSIDERAÇÕES FINAIS Em suma, foi notório que houve negligenciamento, por parte dos professores, em relação à construção do conhecimento cartográfico trazendo implicações para o desenvolvimento dos estudantes cegos. A princípio, o desconhecimento proporcionou fragilidade na construção de mapas mentais e na representação gráfica do lugar. É possível afirmar, como um esforço de síntese do que foi discutido que, para os estudantes cegos, a exploração tátil do lugar favoreceu a construção de mapas mentais. Assim sendo, as atividades foram um marco para a compreensão do lugar com aprimoramento do mapa mental. Pois, tiveram a oportunidade inédita de fazer não só o registro cartográfico do mapa mental mas também expressar a forma como eles concebem o lugar. Em vários momentos, os participantes expressavam a gratidão pela nova experiência vivenciada. Em vista disso, as ações dessa pesquisa promoveram um salto qualitativo na compreensão e representação do espaço. Acrescenta-se que o ineditismo das proposições facultou aos participantes uma nova modalidade de expressar suas ideias e de comunicar a sua identidade com o lugar. Mediante o exposto, como agenda de pesquisa, há possibilidade do aprofundamento da temática sobre o registro cartográfico tátil do mapa mental para os estudantes cegos. Palavras-chave: Cartografia tátil, Mapas mentais, Cegos, Educação inclusiva. REFERÊNCIAS BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. Tradução de Luís Antero Reta e Augusto Pinheiro. Presses Univcrsitaires de France, 1977. BOGDAN, Robert C.; BIKLEN, Sari Knopp. Investigação qualitativa em educação: uma introdução à teoria e aos métodos. Portugal: Porto Editora, 1994. LOCH, Ruth Emília Nogueira. Cartografia Tátil: mapas para deficientes visuais. Portal da Cartografia. Londrina, v.1, n.1, p. 35 – 58, maio/ago., 2008. Disponível em: http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/portalcartografia. Acesso em: 15 jul. 2020. RIBEIRO, Solange Lucas. A violência simbólica no cotidiano do aluno cego na escola regular. - 2. ed. - Salvador : EDUFBA, 2021. RICHTER, Denis. O pensamento, o pensamento espacial e a linguagem cartográfica para a geografia escolar nos anos iniciais do ensino fundamental. Boletim Paulista de Geografia, v. 99, 2018, p. 251-267. RICHTER, Denis. O mapa mental no ensino de Geografia: concepções e propostas para o trabalho docente. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2011. THIOLLENT, Michel. Metodologia da pesquisa-ação. 2. ed. São Paulo: Cortez Autores Associados, 1986. VYGOTSKY, Lev Semyonovich. Obras escogidas V. Fundamentos de defectología. Editorial Pedagógica: Moscú 1983. De la presente edición Visor Dis., S.A. Tomás Bretón, 55- 28045. Madrid.