Indígena do Ipiranga, pseudônimo da escritora catarinense Ana Luísa de Azevedo e Castro, é a autora do romance D. Narcisa de Villar, publicado em 1858. Neste romance, ainda hoje abafado pela crítica e pelo cânone, encontramos a fórmula do indianismo romântico produzido pelos autores consagrados, como José de Alencar. O que diferencia a obra de Ana Luísa, no entanto, além das incursões de elementos fantásticos e góticos, pouco explorados pelos autores canônicos no momento dessa publicação, são elementos que aqui nomeamos de arqueodecoloniais. Se de acordo com Ballestrin (2013) a colonialidade é a continuidade da propagação do pensamento colonial, sendo uma matriz que se expressa essencialmente em relações dominantes de poder, saber e ser; a decolonialidade é o movimento proposto por pensadores - como Anibal Quijano, Catherine Walsh e Walter Mingnolo - para resistir e enfrentar os padrões impostos aos grupos subalternizados. Falamos aqui de uma experiência arqueodecolonial porque o conceito de colonialidade e, consequentemente, de decolonialidade, são propostos já na segunda metade do século XX. Assim sendo, não temos, na escrita da Indígena do Ipiranga um conceito organizado, como o que será cunhado mais de um século depois da publicação do seu romance, mas temos, no entanto, uma investida na criação literária que visa dar voz a dois grupos subalternizados: as mulheres e os indígenas. A concepção arqueodecolonial, desse modo, visa observar essas primeiras manifestações decoloniais em D. Narcisa de Villar, um romance que, além de reivindicar seu espaço como também formador do indianismo brasileiro, dá voz às mulheres e aos indígenas, heróis da narrativa, em oposição ao português colonizador, representação da tirania e da violência.