A presença da pornografia na literatura passa a ser considerada como categoria a partir do século XIX através de suas qualidades formais, que criam possibilidades de análise que abrangem a intencionalidade da inserção do texto pornográfico e/ou a sua funcionalidade nos gêneros literários. Essa segunda possibilidade dá margem ao estudo dos elementos pornográficos da sátira, que servem de instrumento de crítica ao poder. Amparados em postulados teóricos de Hodgart (2010) e Frye (2014), segundo os quais a pornografia serve de instrumento para construção da sátira, vista pela ótica do ataque, buscaremos analisar de que modo a pornografia foi tomada como recurso satírico pelos jornais pornográficos brasileiros do final do século XIX e metade do século XX. Para compreender o contexto de produção e circulação dos jornais pornográficos e, consequentemente, como estes se apropriaram da pornografia, é necessário realizar uma investigação por meio dos métodos propostos pela História Cultural (CHARTIER, 1991 e 2007), segundo o qual a história da leitura e da literatura só se faz se o pesquisador levar em consideração as práticas e os modos de leitura, assim como a apropriação e a representação do discurso de uma dada época. Nossa pesquisa aborda, de modo mais específico, os discursos pornográficos e políticos que constituíram os jornais pornográficos para analisar os pontos de tensão e organização destes discursos em relação à crítica política presente no impresso. O objetivo de nossa pesquisa é compreender o discurso pornográfico nos jornais catalogados e a sua relação com a História da Literatura por meio da pornografia e da política. Nosso corpus será formado pelos gêneros utilizados para edição dos jornais que tratavam de questões pornográficas e político-sociais.