Tomie é um mangá de horror publicado em 1987, de autoria de Junji Ito. A obra gira ao redor de Tomie, uma jovem que encarna, ao mesmo tempo, a monstruosidade e a hiperfeminilidade (ZIGA, 2021). A personagem é apresentada como uma entidade que tem a habilidade de produzir um encantamento em homens que, a partir de um apaixonamento, tendem a matá-la e esquartejá-la. O corpo esquartejado da personagem é metamorfoseado em uma monstruosidade e seus pedaços podem vir a se tornarem novas Tomies, a sua transformação tem como consequência a morte dos que estão ao seu redor. A partir das propostas de Kristeva (1941), analiso como o mangá explora o corpo como um signo da abjeção, que marca e excede as fronteiras da humanidade, da vida e da feminilidade. É feita uma discussão quanto ao feminino monstruoso a partir das abordagens de Taylor (2010), mostrando o quanto as ações da mulher monstruosa expõe o gênero como uma relação de poder. Ao fim, concluo com a reflexão sobre como as estratégias usadas para mobilizar tais temáticas permitem que a violência de gênero seja apresentada a partir de uma ambiguidade, visto que, através da espetacularização e da vingança, é produzido um jogo entre o lugar do assassino e da vítima.