O presente trabalho apresenta como temática geral as reconfigurações urbanísticas vivenciadas no Bairro do Recife (PE). A citada região é vista como um dos principais cartões postais da cidade, recebendo, consequentemente, dezenas de comerciantes que atuam para fomentar o turismo local. Todavia, desde os anos 2000, esse espaço vem passando por constantes modificações mediante a chegada do parque urbano tecnológico Porto Digital. Trata-se de um empreendimento voltado para o setor de Tecnologia da Informação e da Comunicação (TIC), cujo faturamento econômico anual é de aproximadamente R$ 2,86 bilhões. Em vista disso, a pesquisa teve como objetivo estudar o discurso dos comerciantes sobre a atuação do Porto Digital, mediante a proposição de políticas públicas que visem estimular o desenvolvimento dos pequenos negócios. O estudo partiu do pressuposto de que há um processo de ocupação urbana nessa região que resulta na exclusão e segregação das atividades econômicas que não estão inseridas dentro da TIC. Para a construção de seu aporte teórico, recorreu aos estudos de Fairclough (2001) sobre a Análise Crítica do Discurso, Thompson (1995) para debater o conceito de ideologia e Gramsci (1971) que contribui com a ideia de hegemonia. No que diz respeito a sua metodologia, adotou um modelo qualitativo analítico (GIL, 2008), sendo feitas entrevistas semi-estruturadas, com comerciantes do Bairro do Recife, selecionados a partir do informante chave vinculado à instituição registrada na carta de anuência. Nas categorias analíticas, recorreu ao modelo tridimensional proposto por Fairclough (1999), fazendo uma análise das práticas sociais, discursivas e textuais. Como resultado, pode-se identificar a presença de uma ideologia neoliberal, cuja ordem discursiva tem como finalidade garantir a manutenção e permanência do domínio do empresariado que, por sua vez, está se institucionalizando como agente de transformação na cidade do Recife mediante a sanção do poder público.