As piadas são espaços sociodiscursivos propícios para a circulação de assuntos censurados por parte da sociedade, capazes de (re)produzir estereótipos e preconceitos de forma sutil (ou não). O riso provocado pelo humor presente nas piadas busca reforçar a mecanicidade construída e instaurada pela sociedade no sujeito configurada a partir das instituições que regulamentam os indivíduos, ditando comportamentos afetivos, aspectos físicos, tendências de moda e outros elementos convencionados social e culturalmente. Desse modo, pensaremos a construção dos estereótipos a partir da orientação sexual e de gênero balizada através das piadas e a performatividade de gênero mobilizada pelo humorista pernambucano Júnior Chicó em alguns recortes discursivos selecionadas no espetáculo Quando Eu Me Assumi (2019) disponibilizado no YouTube. Para delinear o arcabouço teórico dessa pesquisa, recorreremos às postulações de Pêcheux (2014) e Orlandi (2013) a fim de operacionalizar os conceitos teóricos e metodológicos da AD; às formulações de Bergson (2018) sobre o humor e o riso; às contribuições sobre performatividade de gênero cunhadas por Butler (1993, 1999); e recorreremos a Possenti (1998, 2010) com o intuito de compreender como ocorre a constituição dos estereótipos nas piadas. Sendo assim, pretendemos discutir conceitos que contribuam para a amplidão dos estudos discursivos, os quais promovam uma reflexão acerca de como o discurso humorístico corrobora para a propagação de estereótipos e da discriminação sexual e de gênero por meio da violência simbólica, verbal e física que vitimizam muitos homossexuais em nosso país.