Análise sociolinguística da concordância verbal de 3ª pessoa do plural no Português oral de Moçambique, considerando amostras de fala de indivíduos de áreas urbanas, algumas intermediárias e outras rurais do país. Seguindo os pressupostos da Teoria da Variação e Mudança, o objetivo principal é constatar as diferenças quanto à marcação de plural nessas regiões, para verificar o estatuto da regra em cada localidade, se categórica, semicategórica ou variável, e analisar as diferenças entre elas, em relação às restrições (extra-)linguísticas que condicionam o fenômeno. Através dos resultados obtidos pelo programa estatístico GOLDVARB X, constata-se o comportamento de uma regra semicategórica na área urbana (97% de marcação padrão), enquanto as áreas rurais e intermediárias apresentam-se com status de regra variável (86,8% e 70%). Os principais condicionamentos que desfavorecem a presença de pluralidade são os seguintes: (i) uso mais frequente de línguas bantu, (ii) ser falante de Português como L2, (iii) menor escolaridade, (iv) verbos de baixa saliência fônica, (v) verbos inacusativos/inergativos e copulativos, (vi) sujeitos sem marcas explícitas de plural. Em termos qualitativos, nota-se uma diversidade de contextos estruturais variáveis mais semelhantes aos encontrados no PB e, consequentemente, opostos aos vistos no PE. Além disso, verifica-se que a questão diatópica não é a única responsável pelas diferenças atestadas entre as amostras, constatando-se forte relevância para questões extralinguísticas que parecem atuar de forma mais efetiva sobre os índices obtidos. Os resultados apontam, então, que a particularidade da situação multilíngue de Moçambique estabelece uma pluralidade de normas efetivamente praticadas no país, dentro de um continuum de padrões de concordância, a depender, especialmente, de fatores sociais, todos relacionados, direta ou indiretamente, à aquisição e ao contato com o emprego do Português e/ou línguas bantu, que influenciam as configurações dos falares moçambicanos.