A leitura é uma atividade complexa que pode ser analisada desde diferentes perspectivas. Neste trabalho, apresenta-se uma análise pragmática do processo de leitura, entendido como uma comunicação diferida, na qual autor e leitor interagem sem tempo e espaço comuns de referência. Concebe-se o texto como um enunciado, produzido por um dado locutor/autor, em um momento sociohistórico e cultural com características que tendem a diferir-se daquelas observadas no tempo e no espaço em que seu interlocutor/leitor o recebe e o interpreta. Com isso, o ato da leitura revela-se como uma interação, na qual o leitor deixa de ser entendido como um receptor passivo e, assim, reage ao texto, mobilizando seu repertório literário e seu conhecimento de mundo, a fim de uma interpretação interativa do texto lido (YUNES, 2002). Essa interpretação do texto literário, um enunciado que já se encontra fora de seu contexto de produção, requer do leitor escolhas contínuas que geralmente são feitas com base em suas projeções individuais e em critérios de razoabilidade. Desse modo, para Yunes (2002, p. 101), tem-se a concepção de que: “A interação demanda ação e não apenas reação, demanda interpretação e não apenas explicação, compreensão de textos. O texto demanda o leitor e seu repertório de leituras”. Essas afirmações sugerem que a interpretação do texto literário geralmente é feita a partir do background do leitor, o conhecimento de mundo construído pelo indivíduo nas experiências vividas na interação com o meio em que vive. A partir dessas considerações, analisa-se a relação entre texto-leitor desde uma perspectiva pragmática cognitivista, que nos possibilita a descrição da atividade de leitura como um tipo particular de comunicação inferencial marcada pela assimetria e orientada por princípios de relevância (SPERBER; WILSON, 1994).