Este trabalho se propõe a desenvolver uma reflexão teórica sobre culturas e identidades culturais no contexto da educação escolar pública, observando mais destacadamente a tensão existente entre as identidades culturais dos estudantes e dos professores. A educação escolar veicula os bens culturais da chamada cultura dominante no currículo escolar institucionalizado – o currículo oficial. Na impossibilidade de estabelecer uma ruptura absoluta, o currículo oficial desloca para um segundo plano tanto os saberes e os conhecimentos baseados na oralidade quanto os referenciados na imagem, consideradas como formas de comunicação pertencentes à chamada “baixa cultura” que os estudantes supostamente trariam para a escola (GRIGNON, 1995; CAVALCANTI, 2007). Neste contexto, existe uma desvalorização das culturas juvenis pela cultura escolar institucionalizada, materializada no silenciamento no currículo escolar das práticas de significação e dos sistemas simbólicos produzidos socialmente pelos estudantes na família, no grupo de amigos, na vida em comunidade. A sala de aula transforma-se em espaço de conflito entre a cultura comunicada pelos adultos/professores e a cultura dos jovens/estudantes. Como estratégia de resistência ao silenciamento, os estudantes se filiam, dentro dos espaços educacionais, a um conjunto de códigos subculturais como estratégia de identificação que remeta a uma identidade grupal, que podem resultar na produção de identidades culturais distintas das valorizadas pela escola. A tensão entre as identidades culturais é frequentemente naturalizada pela referência a uma fase natural de rebeldia dos jovens ou como conflito inter-geracional. Fracamente, esses eventos são visualizados como reafirmação de uma identidade cultural própria e de questionamentos sobre as bases do projeto cultural-educativo escolar.