TAVARES, Liliane Taise. Madalena antunes: as memórias da educação de uma sinhá moça. Anais V ENLIJE... Campina Grande: Realize Editora, 2014. Disponível em: <https://editorarealize.com.br/artigo/visualizar/6016>. Acesso em: 25/11/2024 05:30
Oiteiro: Memórias de uma sinhá moça é uma obra memorialística da escritora norte-rio-grandense Madalena Antunes. Ela nasceu em 25 de maio de 1880, no Engenho Oiteiro, em Ceará-mirim. Filha de José Antunes de Oliveira e Joana Soares de Oliveira, ela era irmã dos poetas Etelvina e Juvenal Antunes, família tradicional da região. O objetivo deste trabalho é mostrar como se dava a educação de uma sinhá moça no final do século XIX. Para tal, apresenta-se um recorte da obra. Aos 78 anos lançou sua primeira e única obra, a primeira obra memorialística feminina do nordeste, Publicado em 1958, o livro narra a infância da autora que é ambientado em Ceará Mirim na região de engenhos canavieiros, período em que na capital potiguar se destacava economicamente. Na obra Madalena Antunes é personagem e narradora, jovem da elite, que demonstrava apoio ainda de um modelo patriarcal de educação. Esse aspecto educacional feminina é pertinente ao estudo deste por se tratar de um período e de um contexto em que pouco se conhece sobre esse assunto, principalmente na realidade norte-rio-grandense, ainda jovem ela participava da vida social organizando saraus e embora vivesse em uma sociedade patriarcal, seus pais desejavam tê-la formada com uma profissão que lhe permitisse ter certa independência. A partir disso analisamos os aspectos educacionais presentes na obra, ou seja, as atitudes de Madalena Antunes face à sociedade daquele tempo, bem como a educação que as mulheres recebiam, pois se sabe que à mulher foram negados muitos direitos, inclusive o de ser escritora, visto que o cânone literário durante muito tempo não levou em consideração as criações e reflexões femininas por acha-lás sem relevância. Nessa obra, a escritora mostra como se dava a educação feminina, contribuindo para que se conheça a história das mulheres nesse período, durante séculos, a mulher foi retratada, de modo geral, numa situação de subordinação e dependência do pai e/ou do marido. O acesso à educação para as mulheres era restrito, mas algumas moças de famílias abastadas conseguiam ter acesso ao ensino através de professores particulares, contratados para ensinar na casa das alunas, caso de Madalena Antunes e de seus irmãos que aprenderam a ler, em casa. Louro afirma que “A escola no Brasil parece ter sido um local de formação diversificada para homens e mulheres, tendo proposto ao longo da história objetiva diferenciada para cada um dos sexos.” (LOURO, 1987, p.13). A escrita de Madalena Antunes em Oiteiro pode ser caracterizada como forma de identidade feminina, utilizada como ferramenta de satisfação e manifestação de seu eu, o desejo de retratar e resgatar a infância faz com que a memória se torne tão presente na obra. Desse modo ela mantém registrado seu mundo mais íntimo, no qual podemos encontrar a sua identidade, uma identidade feminina. Na tradição literária o papel referente à mulher era sempre a de coadjuvante, santa ou pecadora, um papel estabelecido pela sociedade, os valores a elas atribuídos tinham uma finalidade moralizadora para quem os lessem, em relação à autoria feminina, havia uma grande desconfiança, dado que “a experiência da mulher como leitora e escritora é diferente da masculina [o que] implicou significativas mudanças no campo intelectual, marcadas pela quebra de paradigmas e pela descoberta de novos horizontes de expectativas”. (ZOLIN, 2009, p. 217). A leitura permite conhecer o passado e refletir sobre o presente, pois considero relevante mostrar como se dava a o ensino feminino nesse século. O suporte teórico recorre-se a conceitos da Teoria e Crítica literária Feminista: Conceitos e tendências (2007) de Thomas Bonnici, Teoria Literária: Abordagens históricas e tendências contemporâneas (2007) de Thomas Bonnici e Lúcia Osana Zolin para que assim haja uma maior compreensão da obra analisada, História da Educação (1997) de Nelson Piletti e Claudino Piletti e Prendas e antiprendas: uma escola de mulheres (1987) de Guacira Lopes Louro, O poder Simbólico de Pierre Bourdieu (2001), Mulheres no Brasil colonial (2003) de Mary Del Priore e A História Cultural: entre práticas e representações de Roger Chartier (2002).