Refletir sobre os saberes e as práticas tradicionais do povo habitador do semiárido piauiense, significa questionar quais sociabilidades educativas e expressões culturais lhes conferem o sentimento de pertencimento a região. Significa, também, discutir as possibilidades de inserção de tais conhecimentos nas políticas públicas de desenvolvimento para a região assim como nos currículos escolares do ensino fundamental. Nesse trabalho, objetivamos apresentar as atividades extensionistas realizadas por um grupo de professores e alunos das Universidades Federal e Estadual do Piauí, Campus de Picos, que tem como finalidade inicial realizar um inventário dos sujeitos, saberes e práticas tradicionais de uma parte do semiárido piauiense, situada nos espaços fronteiriços com o Ceará, Pernambuco e Paraíba, assim como analisar as dinâmicas socioculturais que envolvem os processos de aprendizagem, preservação e transmissão dessa modalidade de conhecimento. Trata-se da apresentação de um trabalho coletivo que se realiza com a finalidade acadêmica de ressignificar o fazer pedagógico e o fazer pesquisa e extensão nos cursos de Pedagogia das Universidades Federal e Estadual do Piauí/ Campus de Picos, ao colocar em evidência na cena educacional questões pertinentes às manifestações culturais da sociedade na qual se encontram inseridos, buscando, na medida do possível, equiparar cultura local e cultura acadêmica. Para a feitura do presente texto, fundamentamos nossas análises nos aportes teóricos e metodológicos da História Cultural em suas interfaces com a História da Educação, fazendo uso da História Oral como técnica principal da coleta de dados e da História de Vida como instrumento de compreensão da trajetória dos partícipes enquanto sujeitos inseridos em um espaço geográfico definido, vivenciadores de acontecimentos e fenômenos sociais, históricos e culturais da sua temporalidade. No que tange as análises teóricas aqui apresentadas, estas se encontram articuladas a partir de um entendimento amplo de educação definido por Thomas (2000) como parte essencial do conjunto de valores que caracterizam a formação cultural de uma sociedade, sem perder de vista as distinções, os conflitos sociais e suas diferentes formas de manifestação. Também fizemos uso da noção de Práticas Culturais delineada por Chartier (2001) como os modos de fazer dos sujeitos históricos por nos permitir reconhecer, junto aos partícipes, uma identidade social e uma maneira própria de estar no mundo. Por conseguinte, interpretamos como saberes tradicionais um conjunto de saberes que transmitidos através da tradição oral (ou das práticas seculares) em comunidades rurais e urbanas situadas no semiárido piauiense ainda conseguem fazer parte das práticas costumeiras e das transmissões empíricas. Os inventários realizados até o presente momento parecem indicar que o semiárido piauiense é desconhecido de grande parte da população do Estado. Até mesmo quem nele habita, fala do semiárido como um espaço distante de suas vivências cotidianas, parece não haver uma identificação (ou consciência) do sujeito com a história e a cultura local. Os indícios nos permitem inferir que a ausência de um mapeamento histórico cultural dos sujeitos, dos saberes e das práticas tradicionais e sua organização sistemática em forma de livros didáticos e paradidáticos, documentários, cartilhas, não permitem uma maior divulgação dos mesmos entre as novas gerações.