O sagui-comum (Callithrix jacchus) é um calitriquídeo que ocorre naturalmente na Caatinga e Mata Atlântica do nordeste brasileiro (YAMAMOTO et al., 2009) e alimenta-se principalmente de insetos, frutos e exudado (goma) (SUSSMAN; KINZEY, 1984). Existem poucos trabalhos que levam em consideração a distribuição dos recursos alimentares, sendo que, a variação da disponibilidade dos itens, principalmente frutos, tem uma grande influência na ecologia comportamental de calitriquídeos (FERRARI, S.F.; FERRARI, M.A.L.,1989). Além da disponibilidade, devem ser consideradas algumas características dos frutos, nomeadamente, a cor ou a quantidade de tecido comestível, uma vez que, esses aspetos vão influenciar o seu consumo (GAUTIER-HION et al., 1985). Assim sendo, o objetivo do trabalho foi analisar o consumo e disponibilidade de frutos na área de uso de dois grupos de Callithrix jacchus (sagui-comum) que habitam a caatinga. O trabalho foi realizado na Floresta Nacional de Açu, onde foram acompanhados dois grupos de Callithrix jacchus, o grupo T, que ocupa uma área estritamente de caatinga, e o grupo B que utiliza tanto área de caatinga, como também uma área de pomar que possui árvores frutíferas. Os grupos foram seguidos de Março a Junho de 2018, durante seis dias por mês, desde o amanhecer até à hora do seu recolhimento. Foram registrados os frutos consumidos e, uma vez por mês, foram registradas as espécies de árvores e arbustos com frutos disponíveis ao longo dos trajetos percorridos por cada grupo. As espécies foram, posteriormente, identificadas com base em guias de identificação de plantas e os frutos foram classificados como “crípticos” (verde ou marrom), “conspícuos” (amarelo, laranja ou vermelho) ou “escuros” (preto ou roxo). Nas espécies em que existem frutos de diferentes cores, dependendo do grau de maturidade, todas as cores disponíveis foram contabilizadas. Foram encontradas 19 espécies com frutos disponíveis, 13 na área do grupo B, 3 na área do grupo T e 3 espécies comuns aos dois grupos. Das 19 espécies, 11 possuíram frutos crípticos, 2 possuíram frutos conspícuos e 6 possuíram frutos conspícuos e crípticos. Existiram mais espécies com frutos carnosos (13) do que com frutos não carnosos (6), sendo que, todos os frutos não carnosos apresentam coloração críptica. Embora tenham existido frutos conspícuos na área dos dois grupos, todos carnosos, existiram mais espécies no grupo B (7) do que no grupo T (2). Por outro lado, na área do grupo T só existiram frutos amarelos, enquanto que, no grupo B existiram frutos amarelos, laranjas e vermelhos. Das espécies disponíveis, apenas 6 foram consumidas e todas elas possuíram frutos carnosos. Foram consumidas 5 espécies no grupo B e apenas 1 no grupo T (em Junho). O único fruto consumido pelo grupo T possui coloração críptica, enquanto que o grupo B consumiu 2 frutos crípticos e 3 conspícuos. De um modo geral, a maioria das espécies da caatinga produz frutos não carnosos, levando a que, a disponibilidade de alimento para os animais que consomem frutos carnosos seja baixa (AMORIM; SAMPAIO; ARAÚJO, 2009). O grupo B teve maior disponibilidade de frutos e, de fato, teve maior consumo de frutos comparativamente ao grupo T, que apenas consumiu um fruto. Além disso, o grupo B consumiu frutos carnosos laranja e vermelhos sempre que estes estiveram disponíveis, enquanto que, na área do grupo T não existiram frutos dessa coloração. Assim sendo, podemos supor que o grupo T terá uma estratégia de forrageio diferente, por exemplo, aumentando o consumo de exudados (CASTRO; ARAÚJO, 2007), ou o consumo de outras partes florísticas, nomeadamente, flores e néctar (AMORA et al., 2013).