No final de 2014 os agravos à saúde causados pelo mosquito Aedes Aegypti chamaram atenção pelo aumento do número de casos e, especialmente, pelo aparecimento do Zika Virus, da febre Chikungunya e da associação entre o Zika Vírus e a Microcefalia. As políticas de enfrentamento, incluindo a decretação de emergência nacional, seguindo um protocolo internacional, têm sido objeto de várias críticas. A principal delas defende a tese de que tais políticas se mantiveram no reforço do padrão histórico brasileiro, ocupando-se mais das consequências, do que das causas dos problemas. Buscaremos, analisar as ações e políticas de saúde relacionadas ao combate ao mosquito Aedes Aegypti, no contexto da tríplice epidemia (dengue, zika e chikungunya). Especificamente, pretendemos, identificar as ações e políticas implementadas e/ou executadas nos municípios paraibanos de Pocinhos, Juazeirinho e Soledade; analisar a natureza de tais políticas, tomando como parâmetros o Direito a Saúde, nos termos da Constituição Federal, o conceito de injustiças socioambientais, do campo da ecologia política, e o conceito de equidade de Amartya Sen. A pergunta que tentaremos responder é se o conjunto das ações e políticas, contribuiu para reduzir os agravos e, sobretudo, enfrentar, estruturalmente, os fatores que, em nosso ver, são determinantes para a produção das arboviroses dengue, Zika e Chikungunya. Para a identificação e análise das ações e políticas de saúde relacionadas à tríplice epidemia foram adotados seguintes procedimentos: consulta ao banco de dados do Projeto Zika UEPB, relatos de escutatórias (rodas de conversas) com profissionais e gestores da saúde e da educação dos três municípios (setembro de 2016 a setembro de 2018); participação em seminários e processos formativos no âmbito do projeto; contatos e diálogos dirigidos (por e-mail, whatsapp, telefone celular) com gestores para obtenção de informações e/ou encaminhamento de pedido de informação; levantamento documental nas Secretarias do Estado e dos municípios, sites e portais das prefeituras, boletins epidemiológicos, relatórios técnicos, além de sites como Trata Brasil, SNIS, IBGE, DATA SUS, dentre outros. A consulta a essas fontes contribuiu para a construção de uma leitura crítica da natureza, sobretudo das políticas, e para a conformação de um quadro das chamadas injustiças socioambientais (para nós, os determinantes estruturais do adoecimento). Quanto à equidade, além do material já coletado, foram realizadas entrevistas semi-estruturadas com sequelados pela microcefalia e com gestores. Até o momento, o estudo já obteve resultados relativos a algumas ações adotadas pelos municípios investigados. No entanto, quanto ao que ao foi experienciado no território, observou-se dificuldades de interação entre saúde e educação, através de uma gestão setorizada e não integrada; estratégias de promoção à saúde fragmentadas; ausência total de planejamento (políticas do imediato); subnotificações (principalmente para Dengue, Zika e Chikungunya); ausência de registros confiáveis; ações focadas em métrica e não nos resultados qualitativos; excesso de eventos, dias D's, e fragilidades nos processos formativos; transferência de responsabilidade para a comunidade e, o que nos pareceu mais grave, repasse de conteúdos desatualizados nas escolas sobre o mosquito e as doenças Dengue, Zika e Chikungunya. Do ponto de vista da construção de uma reflexão sobre os fatores que contribuem para a proliferação de focos do mosquito e as doenças Dengue, Zika e Chikungunya, particularmente no território do Consórcio São Saruê, reconhecemos a complexidade de apontar esse ou aquele fator como preponderante. Alimentamos, contudo, a hipótese original do projeto: a proliferação de doenças como a Zika, Dengue e Chikungunya diz respeito ao modo como certo padrão de desenvolvimento não está atento para garantir condições básicas de saneamento, acesso à água potável e seu adequado armazenamento. Significa afirmar que a saúde pública está diretamente relacionada a um projeto de desenvolvimento.