O presente trabalho se propõe a estudar a influência do cancioneiro medieval na lírica de Castro Alves. A partir da seleção e estudo de algumas composições presentes em "Espumas Flutuantes" (1970) e "Poesias Coligidas" (1913), a saber, “A volta da primavera”, “Murmúrios da tarde” e “Adeus”, podemos identificar a construção de um imaginário amoroso que em muito se estreita com o temário da natureza e da mulher recorrente na produção poética do medievo. Na lírica de Castro Alves, o binômio da mulher, entre Eva e Maria, aparece intimamente ligado ao movimento dos ciclos naturais. A relação entre o sentimento amoroso e a mulher como alvo deste obedece ao ritmo de encontros e perdas metaforizado pela alternância das estações. A concepção cíclica do amor põe o sujeito lírico submisso às oscilações desta natureza com a qual a imagem da mulher se confunde (ZINK, 2006). No imaginário amoroso do poeta em estudo, persiste uma representação da mulher, remontando ao pensamento da cultura ocidental que a compreende como objeto de desejo masculino. Está subjacente no inconsciente textual de sua lírica-amorosa, a imagem da mulher atrelada ao movimento da natureza. A posse deste objeto de amor é para o amante o momento de euforia normalmente associado à primavera e ao verão, assim como o outono e o inverno pressagiam ou assinalam a perda e o luto da mulher amada. O temário do amor cíclico inseparável dos fenômenos naturais encontra o seu arquétipo na Natureingang dos trovadores medievais. A Natureingang correspondeu a um topos literário identificado originalmente com a Minnesang, a versão do amor cortês germânico na Idade Média. Spina (1996) também compreende esse motivo poético como intróito à composição lírica onde a paisagem funciona como cenário para expressão sentimental do trovador. Com maior frequência, cabia à primavera o papel de preludiar as canções amorosas, estabelecendo o vínculo entre os elementos naturais e a disposição de ânimo do eu-lírico; A transformação da paisagem é um traço marcante da Natureingang. O canto dos pássaros, o desabrochar das flores, o reverdecimento dos campos estão presentes nos exórdios das canções amorosas germânicas, descrevendo o cenário para o idílio dos amantes. Na lírica medieval, entre esta natureza cíclica e o trovador interpunha-se a figura da mulher. A relação amorosa destes últimos era permeada pelos códigos sociais que regiam a relação vertical entre suserano e vassalos, transpondo-se para o campo poético como código amoroso. O lirismo romântico de orientação melancólica do poeta baiano recupera essa erótica medieval: do nascimento à morte, e desta à ressurreição. A mulher associada aos fenômenos naturais transforma a paisagem, sendo sua presença motivo de alegria e sua ausência de sofrimento. A natureza evocada com suas estações serve de cenário vivo às disposições de ânimo entre os amantes. Logo, veremos nos poemas castroalvinos, a euforia das núpcias primaveris, a melancolia prelibada com o entardecer e seus suspiros evanescentes no segundo poema; e o último poema, o luto fechado de um amante renitente em aceitar a perda do objeto de amor.