Pretende-se investigar neste estudo a composição dos sujeitos narradores do romance autobiográfico Diário de Bitita, da escritora afro-brasileira Carolina Maria de Jesus, e de alguns dos contos que formam a coletânea Insubmissas lágrimas de mulheres, da poeta e ficcionista negro-brasileira Conceição Evaristo, a partir dos respectivos territórios ou espaços periféricos em que as suas obras se inserem, sejam eles o geográfico, o político ou o social , através da apreciação da escolha vocabular das respectivas protagonistas. A análise comparatista será feita através da perspectiva pós-colonial da falta de enunciação da subalternidade (SPIVAK, 1998); da relação entre discurso feminino e identidade social (FERREIRA, 2009) e da representação social da periferia (HALL, 2009). Assim, este estudo visa eminentemente a apontar a desconstrução feita pelas duas autoras do modelo metafísico da cultura ocidental, em que a mulher (com mais intensidade a mulher negra, semialfabetizada e indigente) não sabe traduzir em palavras o significado do seu cotidiano, sua mobilidade social e as suas relações sociais. Numa forma toda original de “ler o mundo” , tais personagens expressam em seus diálogos e monólogos traços valorativos e comportamentais que contradizem a etnografia monocentrista, demonstrando que nem sempre a marca linguística do narrador gramatical reflete ou refrata o sujeito social.