Podemos afirmar que, tanto António Lobo Antunes quanto Moacyr Scliar, guardadas as suas diferenças culturais e literárias, abordam em algumas de suas obras a temática do corpo humano. No presente estudo, buscou-se evidenciar os pontos convergentes desses escritores em relação às suas análises corporais grotescas. Mas, como perceber o grotesco como ferramenta de desconstrução social em cada um deles? Através da leitura das seguintes crônicas antunianas A consequência dos semáforos, As pessoas crescidas e O surdo (Livro de Crônicas, 1998), bem como do romance O centauro no jardim (2004) de Scliar, tentaremos demonstrar que o ser humano é posto em xeque, carnavalizado e seriamente criticado por ambos, sendo ainda por eles evidenciada a face excêntrica de seu corpo, como uma maneira de se criticar a sociedade ocidental, que ainda hoje, não aceita a diversidade física e comportamental dos indivíduos. Como resultado dessa análise literária, veremos que o corpo do homem carrega patologia, desconforto e incorreção, nas obras citadas. Essa imperfeição nos é revelada por tais escritores sob o prisma inusitado do grotesco, instigando em seus leitores, novos modos de se enxergar a existência e a forma humana. Em acréscimo ao dito, tomou-se como base teórica as ideias de Kayser, Foucault, Le Breton, Paula Sibilia, dentre outras, para a nossa discussão, que também visa ampliar as pesquisas sobre o “corpo grotesco”, no meio acadêmico.