O modernismo da famosa Semana 22 é normalmente propagado como um grito iconoclasta e transgressor. Essa visão é, no entanto, parcial, uma vez que não leva em conta o fator construtivo do movimento. Não se lembra, por exemplo, de que foram os modernistas que resgataram o barroco mineiro (numa clara mostra de revitalização do passado – sem, no entanto, cair no passadismo).E é para falar dos recursos de construção do presente pelo passado que nosso estudo se debruça sobre a poesia de Carlos Drummond de Andrade. Profícuo e diverso, o mineiro possui uma obra que constrói uma nova faceta do modernismo. Afastando-se cronologicamente e esteticamente dos apupos iniciais que se deram com Oswald de Andrade e o primeiro Mário, Drummond irá desenvolver uma estética dissonante dessas primeiras manifestações – porém amadurecida – para que não será paradoxal a convergência dicotômica entre os traços modernos e também formais (mas não formalistas), a partir da utilização dos recursos da intertextualidade, como as paródias – que estruturalmente instauram a negação de um conteúdo – e as paráfrases – que, recuperando um conteúdo desgastado ou não, imprimem-lhe rigor (e vigor) formal. Dessa forma, a crítica literária do poeta – menos feita em compêndios literários do que metalinguisticamente – se vislumbra numa intertextualidade que não se perde em hermetismos clássicos ou gratuidades experimentais, antes se presta à convocação de um passado que será revisto, analisado e, a partir disso, criticado ou enaltecido, de acordo com seu mérito. Assim, da mesma forma que, se o prosaico mostrará a modernidade, a recuperação intertextual e organizacional das estéticas apontará para o clássico, de maneira que, na simbiose de opostos, na fusão dos contraditórios, Carlos Drummond de Andrade mostra todo sua consciência artística e seu lado de crítico literário, pois produz não só uma poesia que consegue olhar para si, mas que também reconhece no passado as argamassas que irão solidificar o presente.