O presente trabalho busca analisar personagens de dois filmes a partir da aplicação do processamento digital de imagens à leitura das expressões faciais de tais personagens, investigando-as como fator de influência na seleção da linguagem verbal a ser aplicada em legendas. Situada no campo da Tradução Intersemiótica, nossa pesquisa embasa-se no Processamento de Digital de Imagens associado ao mapeamento das expressões faciais e suas respectivas emoções, na Narrativa Fílmica e na Legendagem como atividade tradutória. Para a construção do corpus, dois filmes foram selecionados com base em sua elevada carga emocional e por pertencerem, respectivamente, ao cinema nacional e estrangeiro: Bicho de Sete Cabeças (Laís Bodanzky, 2000) e Magnólia (Paul Thomas Anderson, 1999). Cenas de ambos os filmes foram escolhidas sob os seguintes critérios: presença de atores na tela em posição favorável ao processamento digital de imagens (aproximada à posição frontal), relevância da expressão facial das personagens no contexto fílmico e possíveis limitações de legendagem. Os softwares Bandicam e Bandicut foram utilizados na produção de arquivos de vídeo contendo as cenas a serem digitalmente processadas. Como última etapa da coleta de dados, compilamos e construímos um corpus paralelo contendo transcrições dos diálogos das cenas selecionadas e suas respectivas traduções na legenda. Para a análise, onde o projeto encontra-se no presente momento, partimos à triangulação dos dados (legenda/diálogos, narrativa fílmica e dados obtidos via processamento digital pela Affectiva) buscando observar como relacionam-se as três instâncias no processo de semiose, quais limitações parecem existir e se o contexto fílmico se responsabiliza por supri-las; atentando, nos casos positivos, para como isso ocorre e, nos casos negativos, que tipos de perdas implicam ao espectador. Buscamos, por fim, averiguar a viabilidade da aplicação do processamento digital de imagens referente à expressão facial durante a legendagem. Até o presente momento, a análise nos revela como o processo de legendagem implica, necessariamente, uma série de perdas e deleções à dimensão verbal de obras fílmicas, cujo contexto narrativo e imagético devem então responsabilizar-se por suprir tais perdas. De fato, isso se dá na maior parte dos casos analisados até agora (85%), onde o desenrolar da narrativa e o contexto imagético imediato (destacadas aqui as expressões faciais) tornam claras a ação e intenção fílmicas, resultando em nenhuma perda ou apenas perdas minoritárias para o espectador. Quanto ao processamento digital de imagens, a análise nos revela até agora momentos de grande acuidade em sua leitura das expressões faciais em relação à interpretação dos pesquisadores. Entretanto, momentos de distanciamento também são observáveis, gerados sobretudo pela incapacidade do software de lidar com o contexto fílmico, dada a tecnicidade de suas leituras. Esse é o ponto de investigação no momento, visando encontrar a melhor maneira de viabilizar sua utilização durante o processo de legendagem.