O período vitoriano na Inglaterra (1830-1901) foi marcado por muitas mudanças sociais e econômicas, que em um curto espaço de tempo alteraram a vida da população britânica drasticamente (GREENBLAT, 2006, pp. 979-1001). O romance de Anne Brontë, “The Tenant of Wildfell Hall”, dotado de um realismo surpreendente para a época de sua composição, carrega em seu enredo conflitos internos da sua protagonista, que se vê obrigada a escolher entre manter a sua integridade e a de seu filho, e escapar de seu casamento, ou ser arrastada à decadência pelo seu marido alcoólatra, em nome dos valores sociais e morais da época. A partir da contextualização histórica, pretendemos abordar a questão da mulher no período vitoriano com o intuito de identificar em trechos da obra, publicada em 1848, traços ideológicos protofeministas. Para isso, contaremos com os estudos de Virginia Woolf em “ A Room of One’s Own” (1929), de Sandra M. Gilbert e Susan Gubar em “ The Madwoman in the Attic” (2000), e também de Elaine Showalter em “A Literature of Their Own” (2011). Pretendemos, assim, a partir desse aporte teórico, traçar um paralelo entre trechos da obra de Anne Brontë e a teoria feminista do século XX, procedendo à análise de atitudes e discursos da protagonista, destacando a posição que a mulher ocupava na sociedade inglesa aristocrática do século XIX. Acreditamos que podemos trabalhar com esta temática protofeminista do romance de Anne Brontë em aulas de inglês no ensino médio, por meio da leitura de trechos da obra, e por meio de comparações entre as conjunturas das personagens do romance e as conjunturas atuais, onde mulheres ainda se veem atadas a relacionamentos conjugais abusivos, tanto por questões financeiras (por não conseguirem se sustentar), ou por medo de serem perseguidas pelos ex-parceiros. Pretendemos utilizar a obra a fim de apontar as implicações de gênero, discernir e ponderar sobre os efeitos de poder que estas causam e como se relacionam na nossa realidade vigente, transformando a aula de idioma num momento propício para discussões de temas sociais importantes e atuais, por intermédio da literatura. Os PCNs sugerem a necessidade de repensarmos a forma de ensinar língua estrangeira, priorizando, além da comunicação dos alunos na língua alvo, a sua formação como cidadãos, e a literatura viabiliza o desenvolvimento de preocupações morais e éticas em relação à sociedade (TIBERIO, 2014), assim como também permite ao aluno conhecer e usar a língua estrangeira como instrumento de acesso a informações de outras culturas e grupos sociais (BRASIL, 2000).