De um modo geral, as literaturas africanas de língua portuguesa são desenvolvidas em espaços sociais distintos, que sofreram e reagiram de forma diferenciada às opressões do colonizador. No entanto, apesar da singularidade do referencial étnico de cada nação, tem-se um fio condutor de compartilhamento cultural – a luta pela identidade. Nesse sentido, a literatura torna-se um instrumento de negação, de protesto, de reinvindicação e mobiliza os escritores a imprimirem a sua história, não como uma sombra da literatura da metrópole, mas como uma maneira de reinscrever a África no contexto da cultura mundial. O despertar de uma consciência nacionalista, revolucionária e anticolonial nos países lusófonos africanos tem uma forte influência dos movimentos Pan-africanismo e Negritude. O primeiro, enquanto movimento político e anti-imperialista surge fora da África - mas precisamente na América do Norte -, busca uma autonomia nacional, prestigiando aspectos de reivindicação dos direitos políticos do cidadão afro. O segundo tem como princípio básico, uma defesa da cultura africana pelo viés da literatura e da arte. O trabalho propõe analisar a caracterização da identidade nacional angolana e moçambicana, tendo como ponto de partida alguns contos produzidos constantes em O regresso do morto¸ do moçambicano Suleman Cassamo (2016) e Os filhos da terra, do angolano João Melo ((2008) e propor possibilidades de abordagens dos textos em turmas do Ensino Médio. A construção de uma identidade em Moçambique e em Angola representadas nos contos se estabeleceu ancorada na idealização dos elementos locais e na valorização desses elementos como forma de expressão da autonomia. O elemento europeu – particularmente o idioma – não deixou de balizar a construção desse ideário, no entanto, o retorno às tradições e o espírito militante dos escritores enriqueceram ideologicamente esse construto. A partir desses dois elementos, tradição e militância, discutiremos os contos de Suleman Cassamo e João de Melo e apresentaremos algumas possibilidades de trabalho com os textos em aulas de literatura do ensino médio. Martins (2006), ao refletir acerca do ensino de literatura defende que o professor deve valorizar e explorar o texto a partir de sua pluralidade linguística - histórica, social, política, geográfica – e em suas dimensões intertextual, transversal, transdisciplinar e intersemiótica. Valorizar o texto literário em suja pluralidade levará o aluno a compreender a literatura como um fenômeno cultural simbólico capaz de mostrar os conflitos históricos e sociais da realidade cotidiana. No caso da literatura africana de língua portuguesa a dimensão pluricultural dos dois textos em análise favorece o contato do aluno do Ensino Médio com outras visões de mundo, contribuindo para uma reflexão em torno da identidade nacional e literária presentificadas no texto e da de seu próprio país.