As narrativas ficcionais africanas atuais configuram-se através de estratégias estéticas em que passado e presente, a história e a ficção se entrecruzam na formulação de formas narrativas que fustigam os padrões de séculos de dominação colonial. Orgia dos loucos é uma coletânea de narrativas curtas que vincula à redefinição das identidades do âmbito literário, os aspectos históricos, remodelando as percepções do presente, a partir da assimilação da história (re)interpretada pela dicção africana. Neste sentido, a palavra torna-se signo da ambivalência em que a história se perpetua pela ficcionalização de fatos, ganhando corpo pela difusão de uma mundividência desvinculada da versão colonial, inaugurando uma estratégia estética de releitura da realidade. Este trabalho envereda pelos domínios das narrativas curtas moçambicanas, buscando investigar os desdobramentos dos fatos históricos representados pela ficção a eles associada, como estratégia pós-colonial. Os principais objetivos: 1) Analisar as narrativas da coletânea Orgia dos loucos, de Ungulani Ba Ka Khosa, fazendo um levantamento dos aspectos estéticos e temáticos que evidenciam as inscrições culturais africanas; 2) Caracterizar a relação entre histórica e ficção nas narrativas da coletânea em estudo; 3) Descrever a releitura e a reinterpretação dos fatos históricos como estratégia estética que potencializa a palavra escrita, atribuindo-lhe o reverberar e o assimilar das dicções silenciadas pela dominação europeia. O estudo das escrituras africanas revela o desmantelando os padrões genológicos estabelecidos pelo cânone ocidental do colonizador, inaugurando outras formas de narrar, descolonizadas. Nossas reflexões estão fundamentadas à luz das teorias de Leite (2012; 2013); Noa (2006; 2017); Meneses (2012); entre outros.