A ancestralidade é um valor importante da cultura afro-brasileira, que fornece estabilidade da comunidade no tempo e assegura a coesão dessa comunidade no espaço, sendo elemento importante para a formação dos sujeitos. Tal formação, como projeção para o futuro, se dá pelo contato com o passado, intermediado geralmente pelo mais velho, e pela observação e leitura do mundo. Com a intenção de interpretar a ancestralidade elegeu-se o livro infanto-juvenil Zumbi assombra quem?, de Allan da Rosa, observando-a, portanto, como uma das características das comunidades afro-brasileiras, para o qual utilizamos as perspectivas de Henrique Cunha Jr. (2010), e do próprio Allan da Rosa (2013). O enredo – que de modo geral trata das investigações, em que se busca e se questiona o que é posto como verdade pela cultura dominante, aquilo que as instituições re-produzem – trata também das descobertas e encontros, em construção do “enegrecimento” das histórias, dos conhecimentos, como apontou Renato Noguera (2012), num processo de “denegrir”, no sentido de tornar-se negro pela tomada de consciência de si e do mundo, de seu passado, de suas histórias. Assim, tais valores que são modos de formação, organização e manutenção das comunidades no tempo e no espaço, contribuem para atar as pontas dos tempos passado e futuro, numa cerzidura que a literatura afro-brasileira contemporânea tem apresentado, cujo arremate é a formação do leitor apto a tecer, juntamente com sua comunidade, os fios da própria história, sendo capaz, igualmente, de desfiar o tecido oficial, num processo de desconstrução tanto da história que tem obliterado a cultura negra, e das tramas que desfiguram esta cultura.