Este trabalho se propõe a analisar os perfis das protagonistas do conto de fadas Cinderela ou O sapatinho de vidro (2010/1697), de Charles Perrault, e do romance urbano Senhora (2011/1874), de José de Alencar, de modo a estabelecer uma comparação entre as personagens, com destaque aos modelos femininos idealizados por tais narrativas. Com o aporte teórico de Candido (2014), Carvalho (2009), Ribeiro (2014), Todorov (2009), entre outros, faremos uma reflexão acerca das convergências dessas personagens e sua relação com os papéis femininos nas sociedades contemporâneas às produções literárias, bem como aos atuais. Embora separados por uma barreira temporal e sejam gêneros distintos, o conto e o romance em questão se aproximam por meio da percepção de que Aurélia e Cinderela são personagens tidas como padrões de comportamento, nas quais verdades existenciais são idealizadas. Desse modo, percebemos que a literatura, ao trazer como temas perfis femininos, ora se baseia em situações reais, ora transmite modelos de como se comportar na sociedade. Nesse quesito, nem sempre é possível ao leitor alcançar a plenitude dessas verdades, mas a percepção de que a ficção se realiza na literatura – e não necessariamente no mundo real – é essencial para uma maturidade de consciência leitora que note essas similitudes.