Na atualidade, as literaturas africanas se deslocam da antiga função nacionalista para conceber a modernidade. Caracterizando um caminho comum percorrido também pela Literatura brasileira ao passar do Romantismo ao Modernismo, indo ao encontro das manifestações transculturais contemporâneas, na esteira do pensamento de Ángel Rama (2001). Observa-se a busca do que Édouard Glissant (2005) diz a respeito de uma modernidade própria. Essas literaturas, ao entenderem o desgaste produzido pela tentativa de conquistar uma identidade própria às nações africanas, refletem a impossibilidade de volta a um passado pré-colonial e que a hibridez de suas culturas não é somente resultado do encontro com a colonização europeia, mas uma realidade existente antes da colonização. A atual tentativa é de buscar uma modernidade que não seja a homogeneizante, imposta pela Globalização, em que as identidades formam padrões facilmente comercializados e as minorias são subalternizadas. A modernidade própria procurada, a partir da comunicação das literaturas africanas com suas sociedades, é uma modernidade com identidades rizomáticas que tenta dar voz a sujeitos antes ocultados. Nessa busca, a autoria feminina demonstra uma visão particularizada do movimento instaurado nas literaturas africanas contemporâneas. As mulheres, antes e depois da colonização foram vistas como sujeitos estigmatizados e violentados pelo patriarcalismo, estabelecendo com a expressão literária uma relação que revela e tem a necessidade de dizer sobre sua condição minoritária e sobre a condição de outras minorias. O trabalho propõe estudar duas escritoras africanas contemporâneas em cujas obras se lê a busca e problematização da modernidade de suas nações. O estudo analisa as obras O sétimo juramento (2000), da escritora moçambicana Paulina Chiziane e Hibisco roxo (2011), da escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie. Em O sétimo juramento, Paulina Chiziane representa a sociedade moçambicana contemporânea, considerando os caminhos percorridos pelo sagrado. Ao narrar a estória de David e sua família, corrupto administrador de uma fábrica, cujo cargo tenta manter através de um pacto com uma espécie de entidade demoníaca, Makhulu Mamba, a autora percebe o jogo dialético das identidades religiosas em meio à situação atual de Moçambique. Forma-se então uma narrativa transcultural que problematiza o caminho percorrido pelas literaturas africanas em suas respectivas influências extraliterárias. Hibisco roxo narra as memórias da adolescente Kambili sobre os conflitos identitários de sua família. No romance, Adichie mostra que as marcas da colonização viabilizaram uma cultura constituída pela diversidade de crenças e tradições a seguir o Cristianismo. Utilizando o método comparativo, realiza-se a análise das obras examinando o modo como as escritoras se comunicam literariamente, produzindo em suas narrativas atualizações dos valores, identidades e crenças viventes na África. As narrativas de O sétimo juramento e Hibisco roxo mostram uma identidade africana que não se quer fixa, imóvel ou única, mas diferenciada pela condição da diversidade de identidades que se relacionam na contemporaneidade.