A partir do livro de Michel de Certeau ('A fábula mística') estamos desenvolvendo uma pesquisa que teve como provocação inicial a noção de 'corpus mysticum' de Mestre Ávila, que ao ser secularizada, contribuiu para a formulação do que foi denominado posteriormente de Estado-Nação. Nesses termos, aquela concepção sugeriria o conceito de nação como uma das manifestações da experiência criptoreligiosa (Mircea Eliade), ou seja: com a derrocada do grande modelo de cristandade que ocorreu no alvorecer da modernidade, a nação surgiu como espaço de pertencimento numa era de secularização. Assim, a 'comunidade imaginada' surge com o enfraquecimento da experiência comunitária. Noutras palavras, tornou-se imperioso imaginar uma comunidade ou uma outra comunidade quando o 'comum' anterior tornou-se incomum. Este giro é uma das teses, por exemplo, do 'O que é a nação?' de Ernest Renan. Dentre outras aportações nos ocuparemos com a comparação de como se deu essa discussão sobre a nação no contexto espanhol do final do século XIX/início do século XX (Miguel de Unamuno, Ortega y Gasset e María Zambrano) e a 'ideologia da cultura brasileira' (Carlos Guilherme Mota) no século XX. Dentre outras questões: até que ponto a discussão sobre o nacionalismo tem um caráter retrógrado ou libertário? De igual maneira, será que a nação não é um dos mitos inventados para a sobrevivência espiritual do mundo contemporâneo? (José Carlos Mariátegui)