O trabalho que ora apresentamos busca analisar o texto Um Rio chamado Tempo, uma Casa chamada Terra (2003) do escritor moçambicano Mia Couto, tendo como fios condutores a questão do duplo e da autoconsciência da personagem. Para tanto, recorreremos aos princípios teóricos elaborados por Carla Cunha sobre a questão da duplicidade na literatura como forma de deslindar, nas linhas e entrelinhas do texto, de que forma a duplicidade na personagem serve enquanto elemento de significação do texto. Tal fato, recorrente na obra do autor, servirá como mote para elucidarmos o projeto artístico e engajado do escritor moçambicano. Baseado na proposta teórica que averigua tanto os elementos internos quanto o social presente na composição estrutural do livro, comporemos um caminho de leitura que perscrute a construção discursiva da obra em questão de forma a interpretar suas possíveis significações. A conclusão de nosso caminho de leitura interpretativa propõe que o texto de Couto, para além de suas qualidades artístico-literárias, carrega uma nova proposta social no que tange à realidade de seu país: uma perspectiva que vislumbre a comunhão das ideias tradicionais junto à novidade proposta pela modernidade.