A maior parte dos romances latino-americanos de temática homossexual publicados no século passado caracterizam-se pela combinação de dois tipos de referentes: os dados (auto)biográficos ou pessoais, relacionados com a situação emocional do narrador ou de um personagem, e os eventos históricos ou sociais, que servem de marco para a (não) realização das práticas homossexuais. No caso em que predominam os elementos biográficos, a problemática individual é o eixo argumental do romance, podendo-se a partir daí falar de uma tendência psicológica ou mental relacionada com a denominada narrativa confessional, e no caso em que predominam referentes históricos, acaba tendo lugar um tratamento sociológico ou cultural do argumento, podendo esta narrativa ser denominada de contextual. Essa combinação do pessoal e do social tem sido vista por vários estudiosos como uma característica fundamental da narrativa homossexual na América Latina e, consequentemente, como um traço diferenciador com relação à tendência predominantemente confessional do romance homossexual europeu ou norte-americano. E é precisamente essa mistura de referentes biográficos e históricos o que vai permitir definir a função testemunhal como sendo caracterizadora dos romances latino-americanos de temática homossexual. Função testemunhal resultante da identificação por parte do leitor dos referentes e das intenções do autor, ou, por outras palavras, dos princípios de Referencialidade e Intencionalidade, definidos partindo das teorias do Pacto Ficcional de Umberto Eco e do Pacto Autobiográfico de Philippe Lejeune.