A narrativa (sua construção e recepção) corresponde a um impulso humano básico que é regido pelo desejo de saber e pela busca do prazer: o criador deseja compor histórias que seduzam os leitores/espectadores que, por sua vez, são impulsionados pelo desejo de desvendar segredos, conhecer o final da história, construir significado. Este trabalho se propõe à análise de Duniazadíada (Dunyazadiad) , inserida na coletânea Quimera (Chimera, 1972), de John Barth, que, através da recriação de As Mil e Uma Noites, acentua a relação entre desejo e narração, suscitando aspectos metaficcionais. O desejo, que surge na história materializado através do desejo sexual (do sultão por Scheherazade e vice-versa) e pela luta de Scheherazade pela sobrevivência por meio do estratagema de contar histórias imbricadas e inacabadas na tentativa de provocar a curiosidade do tirano pelo desfecho, se relaciona com os desejos envolvidos na dinâmica do contar histórias: o desejo do leitor/ouvinte (pelo prazer de conhecer a narrativa), o desejo do autor/contador (pela construção da narrativa) e a potência da própria história em ser conhecida, partilhada, perpetuada. Considerando que o texto metaficcional – através de procedimentos diversos – renova as relações entre autor, leitor e narrativa, desconstruindo hierarquias e legitimando o envolvimento do leitor com a história, é possível perceber que, em Duniazadíada, a narrativa – permeada de afetividades extremadas (amor, paixão, fúria, vingança) – apresenta o desejo como metáfora da dinâmica do contar, ouvir, ler e recompor histórias.