A literatura erótica/pornográfica é marcada pelos estigmas que fazem da sexualidade um assunto cercado de preconceitos e tabus, os quais regem a estrutura dos valores morais da nossa sociedade ocidental. Esse grau de resistência ao texto literário erótico/pornográfico tem alicerce nas demandas do patriarcado, que amordaçam o desejo e a sexualidade do corpo feminino. Assim, a ojeriza ao erótico/pornográfico se acentua quando essa literatura rompe com os ideais conservadores, que mimetizam um feminino silenciado em suas pulsões eróticas, para colocar em evidência uma voz feminina que reivindica espaço para falar acerca de seus desejos, deixando às escancaras um corpo que goza em seu maior êxtase erótico. Nesta pesquisa, dispomo-nos a discutir, sob o prisma da condição feminina na obra Cem homens em um ano (2012), da escritora Nadia Lapa, os meios de subversão da ordem patriarcal e masculinizada, utilizados pela personagem Letícia Fernandez. Ainda como forma de compreensão acerca da sexualidade da mulher, a partir de uma perspectiva psicanalítica, recorremos às contribuições da teoria de sexuação humana, postulada por Jacques Marie Émile Lacan (1901-1981) através de releituras realizadas por psicanalistas contemporâneos.