O objetivo desse trabalho é analisar como o corpo monstruoso é fabricado e investido de erotismo em animações pornográficas que são contemporaneamente compartilhadas, de forma gratuita, em diversos sites na rede mundial de computadores. Esses filmes de animação constituem um subgênero específico dentro do mercado pornográfico hard core e têm se expandido consideravelmente nos últimos anos graças ao avanço das técnicas e o ambiente colaborativo da web 2.0. Por meio de uma abordagem etnográfica na e através da internet, assumindo a posição de pesquisador-audiência, ou pesquisador-voyer, foram selecionadas e analisadas 49 animações de diferentes estéticas, duração, narrativas e origens. As análises empreendidas desvelam alguns mecanismos estéticos, narrativos e de linguagem das animações pesquisadas, que operam na intersecção entre a convenção e a inovação do erotismo, atualizando registros de mercado consolidados ao longo das últimas décadas do século XX pela pornografia fílmica mainstream. Entre esses mecanismos podem ser destacados as dilatações e as deformações corporais durante as penetrações, o uso de imagens internas e transparências dos corpos, o gozo abundante e não explícito do monstro para as câmeras, e de estruturas narrativas nas quais a violência é recurso frequente. Esse trabalho se insere em uma pesquisa mais ampla de doutoramento, apresentada e defendida no programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da PUC Minas, em 2017, e permitiu refletir sobre a operação dos dispositivos contemporâneos da sexualidade, e como estes se constituem na tensão entre público e privado, produção e consumo, global e local, convenção e invenção, desejado e indesejado, permitido e interditado, humano e objeto, grotesco e humano, masculino e feminino, prazer e perigo. Também forneceu pistas sobre o espraiamento de uma estética dos excessos e do excesso dessa estética para além do universo pornô, que atualiza e diversifica a noção moderna de monstro e o inscreve definitivamente e de forma dinâmica, no campo erótico.