A contemporaneidade nos abraça como se o mundo fosse de pura fugacidade, liberdade e de prazer. Por estarmos inseridos neste contexto sabemos que os discursos, amiúde, exalam odores narcísicos, próprios de um certo hedonismo que violenta a diferença e a alteridade. Nesse cenário, o corpo erótico, por vezes, encontra-se envolto no véu do proibido e do desconhecido, permanecendo inócuo frente ao conservadorismo e a hipocrisia. E a situação parece tornar-se mais complexa quando tentamos abarcar o corpo prostituído, pois alguns véus podem cair e ulteriores teimam em aparecer, deixando latente a incapacidade humana de lidar com as vicissitudes da sexualidade. O corpo prostituído, ainda considerado um organismo doente, imoral e pornográfico, é um forte indicador das contradições sociais, responsáveis pela estigmatização de um feminino que, resistente à opressão, consegue se subjetivar e se (re)significar a partir das perdas que lhe são solidárias. Abordaremos esta dinâmica a partir da intersecção dos saberes oriundos da arte literária e da ciência psicanalítica. Para tanto, percorreremos as páginas do livro Amar: Verbo Intransitivo- Idílio (1927), do escritor modernista Mário de Andrade (1893-1945). Este ano, a obra completa 90 anos do seu lançamento e foi escolhido de forma proposital, pois, mesmo com os enormes avanços dos movimentos sociais e feministas, o corpo feminino, independente de sua natureza, continua recoberto pela incompreensão. Debruçaremos sobre a personagem Elza ou Fräulein, uma alemã que chega ao Brasil, fugindo dos terrores da guerra, e, aqui, empenhará seu corpo na arte de ensinar a amar, como Andrade descreve.