Introdução: Evidências científicas comprovam que o abortamento representa um grave problema de saúde pública de grande amplitude e que envolve questões políticas, legais, socioeconômicas e psicológicas. Apesar de ser considerado um crime contra a vida, a ilegalidade não impede sua ocorrência, apenas incentiva práticas clandestinas e inseguras. Objetivo: Analisar o contexto da gravidez que resultou em aborto, entre mulheres internadas por abortamento na rede pública de Salvador, Recife e São Luís, comparando abortos declarados como espontâneos e provocados. Métodos: Projeto integra uma investigação mais ampla, o inquérito GravSus.NE, realizado em dezenove hospitais-maternidades de Recife, Salvador e São Luís, na qual foram entrevistadas 2.808 mulheres. Resultados: Mulheres com aborto provocado eram frequentemente mais jovens, negras e menos instruídas do que aquelas com aborto espontâneo. Também relataram não querer engravidar ou não pensaram no assunto e usaram mais contraceptivos à época da gravidez do que aquelas com aborto espontâneo. Considerações Finais: Apesar de ser amplamente debatido, ainda há carência de dados quanto à magnitude do aborto em diversos locais do Brasil, devido ao sub-relato de aborto induzido. Estudos de base hospitalar não possibilitam identificar o conjunto das mulheres que abortam e se faz necessário investigações populacionais com amostras representativas para estimar a real magnitude do aborto induzido no Brasil e os fatores de risco envolvidos. Importante implementar políticas de atenção integral à saúde das mulheres, com profissionais de saúde mais capacitados e éticos, que respeitem os direitos humanos das mulheres independentemente dos seus preceitos morais e religiosos.