FARIAS, Paloma Leite Diniz et al.. . Anais JORNADA RDL... Campina Grande: Realize Editora, 2017. Disponível em: <https://editorarealize.com.br/artigo/visualizar/30233>. Acesso em: 22/11/2024 19:10
A atual crise de representatividade política brasileira tem feito com que setores organizados da sociedade civil lancem mãos da desobediência civil enquanto estratégia de pressão política. Este modo de expressão da cidadania sempre foi estimulado culturalmente pelas letras de protesto de grandes nomes do cancioneiro pátrio, como o cearense Belchior, recém-falecido e cujos versos, ainda quando sutilmente, fazem alusão à luta popular em prol dos direitos humanos fundamentais. É objetivo deste trabalho, portanto, identificar na poesia do referido cantor ativista sua apologia à prática da desobediência civil, enquanto expressão de cidadania. Foram empreendidas pesquisa bibliográfica e documental, cujas fontes indiretas residem no aporte teórico de nomes como Josely Teixeira, com dissertação e tese sobre Belchior, além de Maria Garcia, Hannah Arendt e outras pensadoras da desobediência civil. Outrossim, fora utilizada como recurso entrevista concedida pelo autor a portal de notícias na internet, no ano de 2001. Verificamos que o artista engajado fez uma verdadeira ode ao ativismo político e associativo, bem como à superação do status quo, criticando a chamada arte alegre de letristas conterrâneos antecessores. Quando fala, por exemplo, em “um preto, um pobre, um estudante, uma mulher sozinha” e eleva essas personagens a protagonistas da canção-título, o autor revela seu sentimento de empatia e inconformidade com o fato de elas serem alijadas do exercício pleno de sua cidadania. Outrossim, vislumbramos que Belchior, para muito além da idéia de rapaz romântico, militava explicitamente, através de suas letras, pela necessidade do povo se colocar como artífice real das mudanças clamadas pela nação, em prol da igualdade. Em “Como o Diabo Gosta”, o autor conclama explicitamente à desobediência transformadora. Assim, pelo exposto, vê-se que Belchior foi, de fato, um grande incentivador da desobediência civil enquanto meio legítimo para consecução dos objetivos de igualdade da república, o que pode ser confirmado, para além das canções acima transcritas, em boa parte de sua obra, hoje reconhecida como das mais relevantes do país.