Diante de uma sociedade cujos valores eram delimitados, Lima Barreto soa com uma linguagem que denúncia os ultrajes contra as dessemelhanças sociais aos negros, mulatos e brancos pobres. Com uma escrita consistente e firme ele é a voz que denúncia os preconceitos raciais existentes em uma sociedade que subjugavam os valores dos povos desvalidos. Na obra Clara dos Anjos, o literato corporizar, em seu romance, os pobres, os negros e afrodescendentes ao expor a sociedade, a corrupção e o aproveitamento de mulheres negras desvalidas e ingênuas. O enredo, que se desenvolve no subúrbio do Rio de Janeiro, além de trazer à tona os frutos de uma sociedade sufocante para os desprovidos de dinheiro, posse e influência, descortina a ousadia de iluminar as paixões mais tenebrosas do homem, as mais clandestinas, as mais proibidas ao abusar da ingenuidade da mulher mulata e pobre. É nesse cenário, em terras brasileiras, numa época de desigualdade social, que surge a narrativa onde o ficcional corporificou o real pelas mãos do escritor Lima Barreto em 1948. À face do exposto, do qual o desejo tem uma base perversa, nossa pesquisa, alicerçada na psicanálise, objetiva analisar a estrutura perversa do personagem Cassi Jones, cujo desejo se organiza na dependência de um objeto da qual a captura imaginária ou real visa garantir o gozo.