Os segredos do amor e de Vênus de Luisa Sigea, escrito pelo francês Nícolas Chorier, gira em torno do diálogo entre Túlia, uma mulher casada, e Otávia, sua jovem prima que se encontra às vésperas do casamento. A obra é considerada como um manual sexual e/ou como uma valorização dos direitos das mulheres, em pleno séc. XVII, numa sociedade repressora. A ambiguidade nas concepções, embora faça parte da cartografia literária, talvez se explique pelo fato do patriarcado ter relegado ao feminino um lugar de passividade e submissão aos desejos do homem, supostamente, detentor de um poder simbólico que lhe conferia o direito de gozar livremente. Neste sentido, apesar das protagonistas se mostrarem bastantes conservadoras no que tange a austeridade sexual imposta sobre seu gênero, não deixam de transgredi-la, na medida em que, dissimuladamente, encobrem seus adultérios, para que possam, por meio da luxúria, se (re)descobrir enquanto sujeitos desejados e desejantes. Por isso, nossa pesquisa, numa conexão entre a psicanálise de base (pós)freudiana e a literatura, com as contribuições sócio-filosóficas de BATAILLE (1987), pretende investigar, na narrativa em foco, a (in)disciplina do desejo ante uma sociedade que se constituiu pela inibição, parcial o integralmente, da libido feminina.