As dimensões da casa grande, em sua arquitetura pensada para os trópicos, traz nas estruturas físicas de suas particularidades, a exemplo da cozinha, quartos, sala de jantar, quarto dos santos, sala de estar e outros cômodos, elementos e organizações decorativas que em muitos aspectos revelam práticas de resistências e relações de poder entre representações de identidade masculina e feminina, coexistindo em um mesmo espaço de vivências cotidianas. A partir dessas observações, percebemos ser possível identificar resistências nos comportamentos como, também, submissões de sexualidade no cotidiano e o poder do masculino imperando nas decisões sobre os arranjos e condutas femininas, mediante discursos machistas e segregacionais posicionados na esfera social de determinado contexto histórico. Pois, metodologicamente, a literatura de José Lins do Rego, escritor paraibano, com ênfase especial nos romances de Menino de Engenho e Doidinho, são em certa medida leituras memorialista de uma época e que permitem pensar o cotidiano, os discursos de poder sobre mulheres e os lugares sociais construídos para as mesmas em um tempo não muito distante do nosso. Deste modo, em termos atuais, nota-se a evidente necessidade de discutirmos sobre as conjunturas socioespaciais das mulheres dos romances de José Lins do Rego, mediando olhares projetados para questões fundamentais. Logo, é importante refletir sobre quem são esses homens e mulheres e como o cotidiano da Casa Grande, juntamente com os discursos de poder, interferem na sociedade ao ponto de nortear suas vidas presas pelas particularidades na maneira de se vestir, comer e organizar suas existências. Sendo assim, este trabalho está conduzido pelos referenciais teóricos de Michael de Certeau, Michael Foucault, Andréa Lisly Gonçalves, Mary Deo Priore, dentro outros, estabelecendo, pois, diálogos com o projeto Pibic intitulado As maneiras de morar nas obras de José Lins do Rego: a sexualidade na casa grande através da literatura do ciclo da cana-de-açúcar.