A Análise do Discurso é um campo de pesquisa que busca compreender a produção social dos sentidos e sua articulação por sujeitos históricos, através da materialidade da linguagem. Nesse sentido, o presente trabalho tem como objetivo descrever e analisar a construção dos modos de subjetivação do sujeito mulher levando em consideração tópicos temáticos tradicionalmente vistos como tabu relacionados às questões sexuais. Para tanto, tomamos como base algumas campanhas midiáticas que sustentam a cultura do estupro, assim entendidas como as que trazem comportamentos sutis ou explícitos que silenciam ou relativizam a violência sexual contra a mulher. Neste trajeto, buscamos realizar a análise da construção dos sentidos que marcam o posicionamento dos atores sociais ao longo destas campanhas midiáticas bem como de movimentos sociais que lutam contra a cultura do estupro. Como base teórica utilizar-nos-emos da bibliografia sobre a Análise do Discurso de vertente francesa, embasada principalmente em Pêcheux e nas contribuições de Foucault. Neste trabalho é possível perceber como se efetivam as relações de poder-saber e os modos de subjetivação do sujeito mulher no enunciado midiático. Os resultados de nossa análise deixam pistas para entender que os discursos veiculados pela mídia operam um jogo no qual se constituem subjetividades baseadas na regulamentação de saberes sobre o uso que as pessoas devem fazer do seu corpo, de sua vida. Articulada a outros enunciados, as campanhas midiáticas são estratégias de governamentalidade por meio das quais forjam-se diretrizes que orientam a construção dos modos de subjetivação, revelando-se um micropoder que se insere no cotidiano feminino e mantém viva a cultura do estupro.