Sendo a sala de aula um ambiente propício para o diálogo de temas importantes e de impacto na sociedade, discutir gênero nesse espaço torna-se essencial, sobretudo em um país de relações desiguais entre os sexos, tanto materialmente quanto simbolicamente. Na literatura encontra-se um meio possível para essa discussão, tendo em vista que nela a realidade pode ser problematizada. No âmbito da literatura infantojuvenil, Lygia Bojunga se destaca por retratar temas polêmicos, especialmente as relações de gênero. Em Angélica (1975), observa-se o conflito das personagens em sua trajetória de constituição do masculino e do feminino, questionando esses lugares como naturais, absolutos e estanques. Nesse sentido, o presente trabalho propõe um roteiro de leitura dessa obra, com o objetivo de sistematizar didaticamente algumas questões temáticas e formais, enfocando, através delas, o gênero. Para isso, no que se refere aos estudos de gênero, a fundamentação teórica consiste nas reflexões de Carson (1995), Scott (1995), entre outros autores; quanto à metodologia de ensino da literatura, consideram-se as perspectivas de abordagem do letramento literário, tal como o define Cosson (2016, 2014). A expectativa é de que a proposta didática sugerida auxilie os professores no árduo trabalho que é fazer da literatura um espaço amplo e plural de debates, sobretudo de temas polêmicos, incluindo o aluno nesse processo.