Ao considerar a inegável inserção do conto de “Chapeuzinho vermelho” na composição do imaginário infantil, abrangente às distintas culturas, o presente trabalho pretende mostrar que o discurso literário pode adaptar-se por meio da interculturalidade, sem perder a legitimidade e a representação social locais. O gênero conto é reconhecido por sua versatilidade em situações pedagógicas que envolvem língua estrangeira, especialmente, ao observarmos esse gênero sob a ótica discursiva (BAKHTIN, 1997), em que os constituintes sociais e culturais do texto se tornam mais tangíveis como objeto didático. Dessa forma, é possível promover não apenas o letramento literário no ensino de língua estrangeira, mas também uma abordagem contextualizada de conteúdos gramaticais, como a semântica e a sintaxe, desenvolvendo as competências oral e escrita dos alunos de espanhol como língua estrangeira. A interculturalidade pode ser encontrada através das significativas versões do conto, originárias de distintos contextos socioculturais. Logo, nos parece que cada cultura e cada sociedade realizaram a adaptação, considerando elementos interpretativos a partir de seu contexto de vivência. É importante reconhecer, também, que essa adaptação não pode ser concebida como um acontecimento inato, pois qualquer relato literário depende do público a fim de alcançar relevância e sentido sociais. Dessa maneira, esse trabalho possui como aporte teórico Candido (2006), ao considerar a arte como um sistema simbólico de comunicação, além de oferecer o esclarecimento sobre a relação autor-obra-público; Bortoleto (2012), que disponibiliza uma exposição comparativa entre as versões; García Martínez (2007), Paraquett (2007, 2010), Aiub (2014), na delimitação da compreensão linguística sobre interculturalidade; Cosson (2009) e Os Parâmetros Curriculares Nacionais Brasileiros (PCN, 1998), para a discussão sobre letramento literário e sobre a atuação docente no ensino de línguas estrangeiras. Para essa discussão, se propõe um diálogo entre as versões de um mesmo conto: as versões de Charles Perrault e a dos Irmãos Grimm, oriundas, respectivamente, dos séculos XVII e XIX; e as versões atuais que circulam na América Latina, especificamente, no Brasil e na Argentina, buscando frisar a interculturalidade como estratégia de reconhecimento linguístico-cultural e social. A análise se estrutura através de quatro pilares teóricos: a compreensão da literatura enquanto arte, a promoção do letramento literário, a interculturalidade e o ensino do espanhol enquanto língua estrangeira. Assim, como resultados, se espera contribuir com a discussão acerca de práticas pedagógicas para o ensino de língua estrangeira, tendo em vista a aplicabilidade de uma leitura crítica e comentada sobre um texto pertencente ao gênero conto, com a finalidade de esclarecer suas estratégias de construção e sua repercussão social, além de auxiliar o professor na instrumentalização teórica acerca da interculturalidade no ensino de ELE , procurando percorrer o caminho da promoção do letramento literário no ensino fundamental e médio.