Adentrar no campo do discurso requer a ativação de algumas ideias-força, sobretudo, quando se almeja enveredar pelos caminhos da análise literária, pois tal campo é bastante amplo, necessitando, pois, que haja uma delimitação criteriosa do objeto. Nesse sentido, esse artigo trouxe como contribuição uma análise do texto literário sob o viés discursivo do sujeito-enunciador, segundo o qual a fonte de referência é a pessoa, o tempo, o espaço e a subjetividade. Para firmar tal intento, optou-se por analisar o conto As Corujas, de Caio Fernando Abreu, tomando-se como recorte a vida e a obra do autor, assim como a relação deste com a escrita de Clarice Lispector, propondo-se uma nova maneira de enxergar o meio ambiente, a natureza e, em particular, os animais. Seguiu-se, todavia, o pressuposto de que - no que tange às trocas de saberes, ao conhecimento de mundo e, sobretudo, à alteridade – os outros seres têm muito a ensinar. Ademais, refletir sobre o lugar da obra literária considerando o tempo, o espaço em que ela foi produzida, assim como, dando ênfase ao discurso do sujeito-enunciador não é tarefa das mais fáceis. É que tal posicionamento pode ser julgado como prática redutora ou empobrecedora da obra. Entretanto, faz-se necessário romper com as suposições dessa linha de estudo, até porque analisar um texto literário através de um “eu” criador profundo e um “eu” social requer dar conta de níveis de entrelaçamentos que não devem ser deixados de fora da contextualização de nenhuma obra. Para essa análise, fez-se imprescindível o levantamento bibliográfico de autores contemporâneos, que ajudaram a fundamentar as ideias aqui retratadas, a exemplo de Garrard (2006), Maingueneau (2009), Foucault (2008), Maciel (2016), Cosson (2012), entre outros estudiosos não menos importantes.