Na perspectiva da Análise do Discurso de linha francesa (AD), os discursos se materializam em diferentes gêneros discursivos situados em determinadas práticas sociais e em domínios específicos. Sendo assim, o discurso literário se estabelece como uma fonte legitimadora de uma multiplicidade de discursos que precisa ser lida como um produto sócio-histórico-ideológico que se concretiza com a história e com a memória. Partindo da ideia de que o romance se configura como um laboratório da sociedade, o presente estudo tomou esse gênero como objeto de investigação, buscando compreender, através de conceitos foucaultianos, como se dá a constituição da loucura, por meio do discurso religioso no romance “Uma história de família”, de Silviano Santiago. Para tanto, a partir da análise de três recortes do referido romance e três sequências discursivas de cada um deles, elencou-se como objetivo identificar e analisar as marcas linguísticas denunciadoras do “lugar” outorgado a loucura pelo discurso religioso nessa obra literária. Chegando às considerações finais, percebeu-se que, alicerçado no discurso religioso, a sociedade representada no romance, encontrava subsídios para ratificar a segregação da loucura, buscando controlar os sujeitos em nome de uma moral que a todo tempo é desconstruída pelo narrador-personagem que se vale do próprio discurso religioso para desconstruir a imagem idealizada de família e estigmatizada do que seria a loucura. Além disso, viu-se que a loucura é constituída como uma doença da alma, como uma decorrência pecaminosa da família que, por castigo divino, é obrigada a conviver com esse tipo de mal que assola a sociedade.