O fenômeno da repetência tem sido discutido há décadas por diversos estudiosos e constitui um dos problemas mais sérios existentes no sistema educacional brasileiro, tendo sido, desde o início do século XX, objeto de vários estudos. Considera-se a repetência como um aspecto cultural intrínseco à lógica da educação brasileira, por isso, tal fenômeno não pode ser concebido como decorrente do tipo de escola, pública ou privada, que os alunos estão matriculados, tampouco do nível socioeconômico de suas famílias, pois mesmo entre as pessoas que possuem um alto poder aquisitivo, cujos filhos estão matriculados em escolas particulares, as taxas de repetência são elevadas. Há 50 anos, observa-se o reinado de uma pedagogia da repetência no território brasileiro, que impede o avanço das gerações através do sistema educacional. Com base nestes aspectos, este estudo, de caráter descritivo e exploratório, sob uma abordagem qualitativa, objetiva analisar as consequências da repetência e sua influência nos processos de estigmatização e exclusão escolar e nos comportamentos dos alunos de duas escolas públicas do município de Campina Grande, Paraíba. Inicialmente, foi realizado o mapeamento institucional das referidas escolas e a observação da dinâmica das salas de aula, com o registro das impressões dos pesquisadores em um diário de campo. Em seguida, realizou-se entrevistas semi-estruturadas com dois diretores da primeira escola e com uma diretora da segunda escola, além de uma professora de cada instituição, totalizando cinco entrevistados, sendo quatro mulheres e um homem. Para a análise dos dados, procedeu-se às etapas da Análise de Conteúdo de Bardin. Os resultados encontrados apontam para a estigmatização do aluno repetente, nos discursos de professores e da gestão, posicionado como aluno-problema. Os estudantes repetentes conceberam a escola como uma instituição autoritária e excludente e demonstraram uma notável dificuldade em levantar pontos positivos e agradáveis referentes à mesma. Quanto aos professores, os educandos disseram-se desapontados com a relação professor-aluno e com a prática pedagógica dos educadores, além de relatar a escassez de comunicação com os mesmos. Sobre as consequências da exclusão escolar, os alunos disseram sentir-se “tristes”, “angustiados”, “desmotivados com as aulas” e “incompreendidos”. Por sua vez, os professores e gestores, em suas falas, atribuíram o fracasso escolar dos alunos a fatores internos aos mesmos e desconsideraram os fatores externos e a própria escola como causa. Sendo assim, conclui-se que o estigma do aluno-problema, sustentado pela escola, apenas reforça a desmotivação e o desinteresse dos estudantes em relação à instituição e a tudo que a envolve, produzindo cada vez mais casos de repetência e exclusão escolar. Os achados corroboram a literatura pertinente no que diz respeito às consequências da repetência em níveis individuais e sociais. Chama-se a atenção para a necessidade de ressignificação deste processo junto aos profissionais da educação e aos alunos e alerta-se para a necessidade de se ir além das questões individuais dos estudantes na discussão sobre os fatores que permeiam a produção da repetência, reconhecendo também a presença de determinantes institucionais e sociais.