Que discursos sobre a educação bilíngue para surdos circulavam no final dos anos de 1990? E como esses discursos vêm produzindo efeitos nas políticas e propostas educacionais para surdos que temos hoje no Brasil? Para responder a essas perguntas, analisamos dois conjuntos de materiais: o primeiro deles, uma coletânea produzida por pesquisadores de países latino-americanos, dos Estados Unidos e da Europa, publicada em dois volumes e que consiste em uma compilação das conferências que foram apresentadas durante o V Congresso Latino-Americano de Educação Bilíngue para Surdos, em abril de 1999, na cidade de Porto Alegre/RS/Brasil. Além dos textos da coletânea, olhamos para o documento que foi produzido por lideranças surdas durante o Pré-congresso que antecedeu o V Congresso, intitulado “A educação que nós surdos queremos”. O segundo conjunto de materiais é formado por documentos mais recentes, como a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (2008), os Subsídios para a Política Linguística de Educação Bilíngue – Língua Brasileira de Sinais e Língua Portuguesa – a ser implementada no Brasil (2014). No segundo conjunto, buscamos identificar os efeitos da produção dos anos de 1990 nas atuais políticas e propostas educacionais para surdos. Pelas recorrências discursivas, construímos dois agrupamentos temáticos: um que trata sobre a aquisição da língua de sinais, indicando que essa deve se dar o mais cedo possível para o desenvolvimento e aprendizado das crianças surdas em ambientes linguísticos favoráveis, o que inclui o aprendizado da língua também pela família e, outro, que trata sobre o lugar das línguas na educação de surdos, defendendo que a língua de sinais é a primeira língua dos surdos e a língua majoritária do país como segunda língua.