Avessos e expressões que conviveram às margens do processo de modernização brasileiro da primeira metade do século XX. Um se desloca de Sergipe para o Rio de Janeiro, a outra de Minas Gerais para São Paulo. Ele imerso em linhas, trapos e diversos tipos de sucatas, ela em jornais, livros e cadernos, material selecionado e retirado dentre outros reciclados que lhe serviam de subexistência. Ambos descendentes de ex-escravos produzindo e cultivando suas poéticas da repetição como mecanismo de inserção no mundo que os excluía. Paradoxalmente, encontravam uma completude a partir de resíduos oriundos das latas de lixo da sociedade do consumo acelerado. Contrariamente aos pressupostos da modernização brasileira, testemunham os fragmentos, as ruínas de uma vida paupérrima, imersos em discursos, artefatos desarranjados, insólitos, enigmáticos construindo um mesmo tipo de poética, àquela que gerou ruptura e colisão com os sistemas linguísticos e plásticos. Os textos de Bispo, costurados em trapos lembram os manuscritos de Jesus, caracterizados por uma miscelânea de gêneros e discursos reunidos como num mosaico de retalhos. Artistas trapeiros que demarcaram rastros contaminados pela prosa cotidiana, inscrita organicamente sem grandes preocupações estéticas, que hoje, através dos críticos de arte, os aproximam das vanguardas e os inserem nos debates das artes como percussores de autenticas artes dessacralizadoras.