Este trabalho procura fazer uma leitura dos poemas “Dolores” e “Páginas Tristes” da poetisa norte-riograndense Auta de Souza, escritos em meados do século XIX. Para isso, privilegia uma reflexão em torno do texto lírico, pontuando questões críticas direcionadas às relações de poder historicamente estabelecidas, revendo o processo formativo de uma literatura no Estado, bem como apontando marcas de uma discussão acerca das condições de gênero aí depreendidas. Bibliográfico, o estudo revisa alguns temas norteadores da fortuna crítica da autora, apontando para uma leitura em que o dado histórico conduz as especificidades em torno do fazer poética. Para isso, metodologicamente, a abordagem de leitura se faz pelo ângulo de visão dialética. Nesse sentido, os textos analisados, situados no único volume publicado em vida pela autora, o livro Horto, constituem-se em polos que, sejam masculino ou feminino (GIDDENS), local ou universal (CANDIDO), deixam, antes de tudo, entrever em sua forma histórica, não apenas uma leitura dos momentos literários apontados pela historiografia, mas também, e principalmente, uma síntese que tem na posição da mulher em uma sociedade opressiva, a tendência de diminuir o valor poético de quem assim escreve. Portanto, investigando a forma social do poema, espera-se indicar elementos que, antes de excluírem o processo de formação (CANDIDO) de uma literatura potiguar, acentua-a e coloca-a em dinamismo no processo histórico de onde provém. Daí, em uma dinâmica mais abrangente, a leitura do texto literário poder permitir uma retomada das posições entre vencidos e vencedores (BENJAMIN) na constituição histórica e cultural de uma sociedade, revendo o lugar das forças dominantes e da centralização dos poderes.